Opositor venezuelano próximo a Machado é detido por "terrorismo" contra eleição
O dirigente opositor venezuelano Juan Pablo Guanipa foi detido nesta sexta-feira (23) após ser vinculado a uma suposta conspiração contra as próximas eleições de governadores e deputados ao Parlamento.
Guanipa, de 60 anos, estava na clandestinidade desde julho e é um importante aliado da líder opositora María Corina Machado.
O ministro do Interior, Diosdado Cabello, exibiu imagens nas quais Guanipa aparece algemado, usando um colete à prova de balas e escoltado por policiais encapuzados e vestidos de preto.
"Ele é um dos chefes dessa rede terrorista", afirmou Cabello em coletiva de imprensa com meios de comunicação estatais. "Foram apreendidos quatro telefones, além de um laptop. Todo o plano está lá."
Guanipa foi acusado dos crimes de terrorismo, lavagem de dinheiro e incitação à violência e ao ódio. "Daqui em diante, o que lhe resta é prestar contas à Justiça", concluiu Cabello.
- "Terrorismo de Estado" -
Guanipa saía da clandestinidade para participar de manifestações da oposição. Sua última aparição pública foi ao lado de Machado em um protesto em Caracas, em 9 de janeiro, contra a posse do presidente Nicolás Maduro para um terceiro mandato, considerado ilegítimo pela oposição.
A oposição afirma ter vencido as eleições presidenciais e acusa Maduro de ter fraudado os resultados. Machado, inclusive, pediu boicote às eleições deste domingo como parte dessa reivindicação.
Uma mensagem foi publicada pouco depois na conta de Guanipa no X: "Se estão lendo isso, é porque fui sequestrado pelas forças do regime de Nicolás Maduro."
"Não tenho certeza do que me acontecerá nas próximas horas, dias ou semanas. Mas do que tenho certeza é que venceremos a longa luta contra a ditadura", acrescentou.
Machado também reagiu na rede social: "Isso é TERRORISMO DE ESTADO, puro e simples", escreveu. "Guanipa é um homem CORAJOSO e ÍNTEGRO. É meu companheiro e meu irmão."
- 70 detidos -
Cabello informou ainda que até o momento 70 pessoas foram detidas em uma operação contra um suposto plano de sabotagem das eleições de domingo, nas quais serão eleitos 24 governadores e 285 deputados.
No anúncio da prisão de Guanipa, mencionou a detenção de outros 11 indivíduos. Também citou a prisão de um equatoriano, um argentino, um sérvio, um alemão e "alguns" paquistaneses.
Segundo ele, o suposto plano consistia em colocar explosivos em hospitais, estações de metrô, delegacias e instalações elétricas. Cabello afirmou que as autoridades apreenderam armas, detonadores e dinheiro em espécie. Disse ainda que o financiamento provinha do narcotráfico colombiano.
O governo venezuelano denuncia quase diariamente supostos planos desestabilizadores e complôs contra Maduro.
Na segunda-feira, Cabello anunciou a suspensão dos voos com a Colômbia pelo menos até a próxima segunda-feira. Na ocasião, afirmou que "mercenários" tentaram usar essa conexão para entrar na Venezuela.
Também foram restringidos os os terrestres nas fronteiras por causa das eleições. Cerca de 400 mil agentes das forças de segurança estarão mobilizados para garantir a segurança da jornada eleitoral.
- "Nunca derrotado" -
Guanipa integrou o Parlamento eleito em 2015, então controlado pela oposição. Foi seu vice-presidente em 2020, quando Juan Guaidó presidia a câmara e era reconhecido como presidente interino da Venezuela por Estados Unidos, Colômbia e outros países.
Este advogado também foi eleito governador do estado petrolífero de Zulia em 2017, mas recusou-se a assumir o cargo por não aceitar prestar juramento perante a Assembleia Constituinte, que na época operava com poderes absolutos e havia assumido funções legislativas.
"Hoje estou injustamente preso, mas nunca derrotado", escreveu em sua mensagem. "Só lhes resta o medo", disse. "Eles se escudam na brutalidade e na crueldade para se manterem no poder."
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