Dólar reverte ganhos e fecha em baixa após governo recuar em medidas do IOF
Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) - Após chegar a subir mais de 1% pela manhã, o dólar à vista reverteu os ganhos e fechou a sexta-feira em leve baixa ante o real, em uma sessão marcada por ajustes técnicos após o governo Lula voltar atrás em relação a parte das medidas de aumento de IOF em operações cambiais.
O recuo do dólar no Brasil também foi ajudado pelo cenário externo, onde a moeda norte-americana cedia ante a maior parte das demais divisas após novas ameaças tarifárias do presidente dos EUA, Donald Trump, contra a União Europeia.
O dólar à vista fechou em leve baixa de 0,24%, aos R$5,6473. Na semana, a divisa acumulou queda de 0,38%.
Às 17h10 na B3 o dólar para junho -- atualmente o mais líquido -- cedia 1,93%, aos R$5,6520.
No fim da tarde de quinta-feira, com o mercado à vista câmbio já fechado, o governo divulgou uma série de aumentos do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) cobrados em operações de crédito para empresas, aportes em planos de seguro de vida do tipo VGBL e transações cambiais diversas, como compra de moedas em espécie e aplicações de fundos no exterior.
As mudanças ligadas às operações cambiais em especial foram mal-recebidas pelo mercado, o que fez o dólar futuro -- o mais líquido no Brasil – acelerar antes de seu fechamento, às 18h00.
Em função do impacto negativo, o Ministério da Fazenda voltou atrás já na noite de quinta-feira em parte das medidas anunciadas. Um novo decreto foi publicado na manhã desta sexta-feira mantendo em zero a alíquota de IOF sobre aplicações de fundos de investimento no exterior, revertendo a cobrança de 3,5% anunciada na véspera.
Além disso, o governo manteve em 1,1% o IOF sobre recursos remetidos para conta de brasileiros no exterior no caso de remessas destinadas a investimentos, também revertendo a alíquota de 3,5% anunciada na véspera.
O alívio das medidas foi efetivado antes mesmo da abertura dos mercados nesta sexta-feira, mas isso não foi suficiente para evitar uma disparada do dólar à vista no início da sessão.
Em meio à desconfiança dos agentes sobre as movimentações do governo, o dólar à vista atingiu a cotação máxima de R$5,7459 (+1,50%) às 10h26 -- ajustando-se também, tecnicamente, ao fato de o dólar futuro já ter reagido na véspera às medidas do IOF do governo.
Ao longo do dia, porém, o mercado foi absorvendo o fato de que o Ministério da Fazenda voltou atrás na medida cambial mais sensível -- a cobrança de IOF em aplicações de fundos de investimento no exterior.
Além disso, o cenário externo era de queda do dólar ante quase todas as demais divisas, após Trump ameaçar a União Europeia com a cobrança de uma tarifa de importação de 50% e alertar à Apple que os iPhones vendidos nos EUA, mas fabricados fora do país, poderão ser taxados em 25%.
Neste cenário, o dólar para junho -- que por ser mais negociado é, na prática, a referência de preços para a moeda à vista -- ou a registrar perdas fortes, de quase 2% à tarde, carregando a divisa à vista para o território negativo antes do fechamento. Às 16h14, na mínima da sessão, o dólar à vista atingiu R$5,6457 (-0,27%). Depois, encerrou pouco acima deste nível.
No exterior, em meio às preocupações com a política comercial do governo Trump, às 17h42 o índice do dólar -- que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas -- caía 0,81%, a 99,098.