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Mercado retira prêmios da curva de juros após governo voltar atrás sobre IOF

23/05/2025 17h06

Por Fabricio de Castro

SÃO PAULO (Reuters) - As taxas dos DIs aram por ajustes técnicos no encerramento desta semana, após a forte pressão vista na sessão estendida da véspera, com o mercado retirando nesta sexta-feira parte dos prêmios da curva depois que o governo Lula voltou atrás em algumas medidas de aumento de IOF.

O saldo desta sexta-feira foi leve recuo das taxas futuras com prazos mais curtos e leve alta entre os vencimentos mais longos -- mas tendo como referência os ajustes de quinta-feira definidos entre 16h00 e 16h10, antes mesmo que as medidas relacionadas ao IOF tivessem sido efetivamente divulgadas pelo governo. Se forem considerados como referência os níveis do fim da sessão estendida da véspera, que vai até 18h00, houve queda das taxas em todos os vértices da curva.

No fim da tarde desta sexta-feira a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2026 -- um dos mais líquidos no curto prazo -- estava em 14,745%, igual ao ajuste da sessão anterior. A taxa para janeiro de 2027 marcava 14%, em baixa de 2 pontos-base ante o ajuste de 14,02%.

Entre os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 13,84%, ante 13,792% do ajuste anterior, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 13,91%, ante 13,87%.

No fim da tarde de quinta-feira -- já após a definição dos ajustes do dia -- o governo divulgou uma série de aumentos do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) cobrados em operações de crédito para empresas, aportes em planos de seguro de vida do tipo VGBL e operações cambiais diversas, como compra de moedas em espécie e aplicações de fundos no exterior.

As mudanças ligadas às operações cambiais em especial foram mal-recebidas pelo mercado, o que fez o dólar futuro -- o mais líquido no Brasil -- e as taxas dos DIs avançarem na sessão estendida de quinta-feira, já depois das 17h00.

Diante do impacto negativo, o Ministério da Fazenda voltou atrás já na noite de quinta-feira em parte das medidas anunciadas. Um novo decreto foi publicado na manhã desta sexta-feira mantendo em zero a alíquota de IOF sobre aplicações de fundos de investimento no exterior, revertendo a cobrança de 3,5% anunciada na véspera.

Além disso, o governo manteve em 1,1% o IOF sobre recursos para conta de brasileiros no exterior no caso de remessas destinadas a investimentos, também revertendo a alíquota de 3,5% anunciada na véspera.

As mudanças, conforme o governo, devem reduzir a arrecadação originalmente prevista em R$6 bilhões até 2026.

Com o alívio das medidas efetivado antes mesmo da abertura dos mercados, a curva a termo brasileira ou nesta sexta-feira por uma redução de prêmios.

“(Na quinta-feira) tivemos o anúncio de um aumento considerável no IOF para o câmbio, para o crédito, e isso caiu muito mal no mercado. A curva de juros... terminou com uma abertura significativa nos vértices médios e longos”, comentou o head de renda fixa da Manchester Investimentos, Rafael Sueishi, em referência ao avanço das taxas na sessão estendida da véspera.

“Essa revogação parcial permitiu um alívio dos excessos do fechamento anterior, apesar da manutenção de outras altas no IOF. O impacto fiscal da reversão da revisão foi considerado baixo”, acrescentou Sueishi.

Com a reversão de parte das mudanças no IOF e o anúncio, ocorrido também na véspera, de contenção de R$31,3 bilhões dos gastos dos ministérios para cumprimento das regras fiscais em 2025, o saldo na avaliação de Sueishi acabou sendo mais positivo que negativo.

De fato, após o ajuste de 14,055% de quarta-feira (um dia antes dos anúncios do governo), a taxa do DI para janeiro de 2027 encerrou esta sexta-feira em 14%. No caso do contrato para janeiro de 2031, a taxa ou de 13,89% no ajuste de quarta para 13,84% nesta sexta-feira.

Ainda assim, a percepção mais geral no mercado era de que o governo errou na comunicação das medidas do IOF na quinta -- que apagaram a euforia inicial com a contenção de R$31,3 bilhões nos gastos. Além disso, errou em algumas das mudanças no imposto.

“O IOF é um imposto arrecadatório, que deveria ser usado para estimular ou desestimular, e não para arrecadar”, comentou o economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala. “O IOF de remessas de recursos para o exterior... Isso gerou um pânico no fim do dia (quinta-feira) e acabou provocando um o atrás do Ministério da Fazenda.”

Um dos pontos de pressão foi o mal-estar entre o ministério e o Banco Central, que criticou nos bastidores o aumento do IOF sobre operações cambiais, como relatou a Reuters.

Na tarde desta sexta-feira, em evento público, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, adotou um discurso conciliador, louvando a rapidez do Ministério da fazenda em reverter parte das medidas do IOF, ainda que tenha manifestado sua discordância com o uso do IOF como ferramenta fiscal.

"Cabe a todos nós reconhecer a tempestividade e a agilidade com que o Ministério da Fazenda atuou", disse em seminário promovido pela Fundação Getulio Vargas.

"Todo mundo precisa louvar e reconhecer o ministro (da Fazenda, Fernando Haddad), como bom democrata que é, em poucas horas após o anúncio da medida, ela já estava suprimida. Antes mesmo de o mercado abrir ele já tinha ouvido a sociedade, ouvido os agentes", acrescentou.

A fala de Galípolo, conforme operador ouvido pela Reuters, contribuiu para a acomodação da curva de juros nesta sexta-feira.

No mesmo evento, Galípolo pontuou que o BC não deveria fazer movimentos bruscos na política monetária, considerando o ambiente de incerteza, e por isso pregou cautela na condução dos juros.

"O que a cautela quer dizer é que, dado o estágio que nós estamos na política monetária e dada a incerteza, o Banco Central não deveria fazer o movimentos bruscos", disse.

Perto do fechamento desta sexta-feira a curva a termo precificava 91% de probabilidade de manutenção da taxa Selic em junho, contra 9% de chance de elevação de 25 pontos-base. Atualmente a Selic está em 14,75% ao ano.

No mercado de opções de Copom da B3, a precificação na quinta-feira -- atualização mais recente -- era de 71,00% de probabilidade de manutenção da Selic, 23,00% de chances de alta de 25 pontos-base e 4,25% de possibilidade de elevação de 50 pontos-base.

Em função do noticiário no Brasil, o exterior teve influência menor sobre as taxas dos DIs nesta sexta-feira. Em meio aos receios com o crescimento da economia dos EUA, após novas ameaças tarifárias do presidente Donald Trump, às 16h35 o rendimento do Treasury de dez anos --referência global para decisões de investimento-- caía 4 pontos-base, a 4,509%.

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