Ibovespa reage e avança em pregão com IOF e novas ameaças de Trump sob holofote
Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) - O Ibovespa fechou em alta nesta sexta-feira, revertendo a abertura mais negativa, quando oscilou abaixo dos 135 mil pontos, em meio a novas ameaças tarifárias do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e aumentos do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) pelo governo brasileiro.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa subiu 0,4%, a 137.824,29 pontos, encerrando na máxima do dia, após recuar a 134.997,3 pontos na mínima. Na semana, marcada pela renovação de topos históricos, caiu 0,98%. O volume financeiro nesta sexta-feira somou R$20,9 bilhões.
Na véspera, no final do dia, o governo publicou decreto sobre elevação do IOF com impacto sobre empresas, operações de câmbio e previdência privada, que repercutiu mal entre agentes financeiros, ofuscando o anúncio da contenção de R$31,3 bilhões em gastos de ministérios para cumprir regras fiscais.
Ainda na noite de quinta-feira, o Ministério da Fazenda recuou em algumas medidas, incluindo a elevação de alíquota de IOF de 1,1% para 3,5% em remessas de recursos para conta de contribuinte brasileiro no exterior, determinando que remessas destinadas a investimentos continuarão sujeitas à alíquota de 1,1%.
Na segunda mudança, em transferências relativas a aplicações de fundos brasileiros no exterior, o IOF aria de zero para 3,5%, pelo decreto de quinta-feira. Com o novo decreto, será retomada a alíquota zero.
De acordo com o estrategista Felipe Paletta, da EQI Research, a decisão do governo de voltar atrás, principalmente na pauta do IOF para investimentos, trouxe bastante alívio, assim como a comunicação do governo de que não era intenção em nenhum momento qualquer tipo de controle de capitais.
"Houve uma recuperação mais sincronizada ao longo do dia e o Ibovespa apresentou um desempenho melhor", observou.
O pregão brasileiro acabou descolando um pouco de Wall Street, onde os principais índices acionários ainda fecharam no território negativo, depois que o presidente Donald Trump disse que está recomendando uma tarifa direta de 50% sobre os produtos da União Europeia a partir de 1º de junho.
De acordo com o analista de investimentos Gabriel Mollo, da Daycoval Corretora, as ameaças de Trump pesaram na parte da manhã na B3, quando o Ibovespa tocou a mínima da sessão, abaixo de 135 mil pontos, mas o recuo do governo brasileiro na questão do IOF corroborou a recuperação no pregão local.
Trump também ameaçou a Apple com uma tarifa de 25% sobre todos os iPhones vendidos nos EUA que não são fabricados no país, afirmando mais tarde que a mesma medida será aplicada à Samsung e a outros fabricantes de smartphones.
Para Paletta, da EQI, o fechamento positivo do Ibovespa nesta sessão diante de uma notícia como a do IOF que, mesmo com o recuo do governo, ainda é negativa, mostra que a bolsa está em um momento bastante positivo.
No relatório Diário do Grafista, analistas do Itaú BBA também afirmaram que o momento é positivo para a bolsa brasileira e enquanto estiver acima dos 132.800 pontos, há expectativa de o Ibovespa retomar o movimento de alta em direção aos 142.000 e 150.000 pontos.
DESTAQUES
- ITAÚ UNIBANCO PN subiu 1,21%, revertendo as perdas registradas mais cedo, que superaram 2%. Analistas do Goldman Sachs e do Citi afirmaram esperar efeito limitado ou marginal para os bancos sob a cobertura deles das medidas envolvendo o IOF, mas ponderaram que ainda é difícil quantificar os impactos. BRADESCO PN também mudou de sinal e avançou 1,23%, assim como SANTANDER BRASIL UNIT, com alta de 0,84%. BANCO DO BRASIL ON caiu 2,51%.
- BRASKEM PNA avançou 9,15%, após notícias de que o empresário Nelson Tanure fez recentemente uma oferta para a aquisição da maior petroquímica da América Latina. Uma fonte afirmou à Reuters que Tanure tem interesse em comprar a parte da Novonor na Braskem, mas ainda deixando a empresa anteriormente conhecida como Odebrecht com uma participação de cerca de 3% na petroquímica. A Novonor tem hoje 50,1% do capital votante da empresa, enquanto a Petrobras tem 47%.
- RAÍZEN PN ganhou 7%, no terceiro pregão seguido de valorização relevante, em meio a notícias relacionadas a potenciais vendas de ativos pela companhia, maior processadora de cana do mundo e uma das principais distribuidoras de combustíveis no Brasil. A empresa, uma t venture da Cosan com a Shell, tem buscado vender ativos para reduzir sua dívida, que avançou para mais de R$30 bilhões no seu quarto trimestre fiscal. COSAN PN subiu 3,62%.
- AZZAS 2154 ON recuou 6,07% e MAGAZINE LUIZA ON caiu 4,96%, com outros papéis de varejo também na coluna negativa do Ibovespa, com agentes avaliando potenciais impactos do aumento do teto do IOF no crédito para empresas de 1,88% para 3,95%, bem como a incidência do IOF sobre o desconto de recebíveis (risco sacado).
- JBS ON caiu 1,23%, após trocar de sinal algumas vezes, mesmo após garantir nesta sexta-feira apoio de acionistas para prosseguir com a dupla listagem de ações nos EUA e no Brasil, com aprovação do plano em assembleia geral. Analistas avaliam que a operação deve destravar valor das ações da JBS, uma vez que a empresa deve alinhar sua avaliação de mercado com a de pares internacionais com uma listagem nos EUA, o que permitirá o a uma gama mais ampla de investidores.
- VALE ON fechou com acréscimo de 0,17%, mesmo tendo como pano de fundo a queda dos futuros do minério de ferro na China, onde o contrato mais negociado na Dalian Commodity Exchange encerrou as negociações diurnas com queda de 1,24%, a 718 iuanes (US$99,73) a tonelada. Também no radar, o conselho de istração da Vale aprovou na véspera a emissão de R$6 bilhões em debêntures, com prazos de 7, 10 e 12 anos.
- PETROBRAS PN subiu 0,22%, em meio à melhora dos preços do petróleo no exterior, onde o barril do Brent encerrou com acréscimo de 0,53%.