Ibovespa reage e sobe 0,40% no dia, aos 137,8 mil pontos, mas cede terreno na semana
Após ter perdido na mínima do dia, pela manhã, o patamar dos 135 mil pontos, o Ibovespa se firmou no campo positivo à tarde, na contramão do ajuste de Nova York, onde voltaram a prevalecer temores em relação a iniciativas tarifárias do governo Donald Trump. Por aqui, após recuo parcial da equipe econômica em relação ao Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) - anunciado por rede social ainda na madrugada -, o Ibovespa lutou e conseguiu subir 0,40%, aos 137.824,29 pontos, na máxima do dia no fechamento, com giro a R$ 20,9 bilhões nesta sexta-feira, 23.
Na semana, caiu 0,98%, no que foi seu primeiro revés desde o começo de abril, tendo acumulado ganhos sem quebras no intervalo iniciado em 7 de abril - o correspondente a seis semanas consecutivas.
"A notícia sobre o IOF, e a forma como a comunicação foi feita, desagradou. Ter voltado atrás para corrigir um pouco é positivo. Mas já não se esperava deste governo algo no sentido de cortes - o que tem havido é aumento de imposto. De qualquer forma, o cenário de rotação de carteiras continua a favorecer Brasil e outros emergentes, como México e Índia. Isso não deve mudar muito em um horizonte de seis meses a um ano. O fluxo deve continuar vindo: temos carry trade favorável, com juro alto e opções também em Bolsa para estrangeiro. E o dólar tem se enfraquecido com decisões de Trump", diz Cesar Mikail, gestor de renda variável na Western Asset.
Nesse contexto, as bolsas da Europa fecharam em forte queda nesta sexta-feira, pressionadas pela escalada nas tensões comerciais entre Estados Unidos e União Europeia. O movimento veio após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recomendar a imposição de uma tarifa fixa de 50% sobre produtos europeus a partir de 1º de junho.
Em Nova York, o dia também foi pautado pela aversão a risco, com rendimentos dos Treasuries em baixa e os principais índices de ações mostrando perdas entre 0,61% (Dow Jones) e 1,00% (Nasdaq) no fechamento. Aqui, o dólar à vista fechou em baixa de 0,25%, a R$ 5,6470.
As críticas à forma como a equipe econômica anunciou, na quinta-feira, um congelamento bilionário de gastos em paralelo a um novo aumento de impostos, revertido parcialmente em questão de horas, também foram ouvidas em Wall Street, reporta de Nova York a correspondente Aline Bronzati. Fontes ouvidas pelo Broadcast (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) lamentaram que os ajustes nos gastos foram desperdiçados e classificaram o formato de divulgação como um repeteco do erro de comunicação cometido no anúncio das medidas fiscais, no fim do ano ado.
"Foi uma pena, o relatório bimestral acabou sendo desperdiçado dessa maneira porque realmente a equipe econômica colocou as coisas mais no prumo, limparam bem (o orçamento)", diz uma delas, na condição de anonimato.
A equipe econômica surpreendeu o mercado positivamente na quinta à tarde ao anunciar um congelamento da ordem de R$ 31 bilhões no orçamento deste ano, bem acima das previsões mais otimistas em Wall Street como também na Faria Lima. Mas o efeito favorável na percepção dos investidores acabou sendo neutralizado pelo aumento do IOF, anunciado logo na sequência.
Contudo, após ter fechado na quinta em baixa de 0,44% e de, a partir de então, métricas como o Ibovespa Futuro e o EWZ terem sinalizado uma sexta-feira que parecia bem mais difícil, este dia seguinte ao que seria mais uma derrapada definida no governo acabou se mostrando relativamente mais brando do que se chegou a temer, em especial do meio para o fim da tarde. No pior momento, o Ibovespa foi nesta sexta aos 134.997,30 pontos, mas se estabilizou acima dos 137 mil pontos, tendo alcançado a máxima do dia no fechamento, saindo de abertura aos 137.272,59 pontos. No mês, sobe 2,04% e, no ano, avança 14,58%.
"Governo voltou rapidamente atrás, em parte, com relação ao IOF. Rotação do capital estrangeiro em direção a Brasil segue em curso, o que é bom - mas incerteza e insegurança jurídica são algo a que os investidores estão sempre atentos", resume Felipe Moura, sócio da Finacap Investimentos.
"No centro das atenções está, sem dúvida, o aumento do IOF, anunciado ontem pelo governo federal, que afetará operações como crédito para empresas, cartão de crédito internacional e previdência privada", diz Christian Iarussi, sócio da The Hill Capital, destacando em especial o efeito para as ações do setor financeiro, desde a quinta, as quais têm forte peso no Ibovespa. Do meio para o fim da tarde desta sexta, contudo, as ações dos grandes bancos reagiram, à exceção mais uma vez de Banco do Brasil (ON -2,51%, na mínima do dia no fechamento).
Por outro lado, o principal papel do setor, Itaú PN (+1,21%), e Santander (Unit +0,84%) fecharam o dia nas respectivas máximas da sessão, com Bradesco também mostrando bom desempenho na ON (+0,82%) e na PN (+1,23%). O fechamento foi positivo também para Vale (ON +0,17%) e Petrobras (ON +0,15%; PN +0,22%, na máxima do dia no encerramento). Na ponta ganhadora do Ibovespa na sessão, Braskem (+9,15%), Raízen (+7,00%) e Direcional (+4,53%). No lado oposto, Azzas (-6,07%), Magazine Luiza (-4,96%) e Vamos (-3,06%).
Em meio à incerteza de curto prazo, as expectativas do mercado para o comportamento das ações na semana que vem estão rigorosamente divididas no Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. Entre os participantes, as projeções de alta, queda e estabilidade para o Ibovespa na próxima semana têm fatia de 33,33%, cada. Na pesquisa da semana ada, 40% esperavam ganhos e outros 40%, perdas para o índice, enquanto a previsão era de variação neutra para 20,00%.