"Abominável", diz família de pai de santo após cremação sem autorização

O pai de santo Odair dos Santos, morto em janeiro de 2022, foi cremado no começo deste mês sem autorização da família, em São Paulo. A família afirma que houve má fé por parte da Velar, que istra o cemitério. A empresa nega, dizendo ter havido erro humano.
O que aconteceu
Após o falecimento de Odair aos 72 anos, ele foi sepultado no Cemitério São Pedro, na Vila Alpina, zona leste de São Paulo. Em 2023, o local foi privatizado e a Velar ou a istrá-lo.
Em 30 de abril deste ano, a família começou a cuidar da exumação do corpo. Os filhos presenciaram a abertura parcial do caixão e o identificaram, mas o sepultador disse que não podia tirá-lo de lá porque ainda havia resíduos mortais. Foi iniciado um processo para obter um caixão novo e realizar o traslado para um jazigo novo, dentro de alguns dias.
No dia 2 de maio, a família chegou ao cemitério para concluir o transporte para o jazigo. No entanto, notaram detalhes estranhos. "A terra do caixão estava toda remexida e a lápide não estava mais lá", disse Flávia dos Santos, uma dos três filhos de Odair.
No primeiro momento, a família ouviu da equipe do cemitério que usaram o caixão novo de Odair com outra pessoa. Isso ocorreu em "caráter de urgência" pois "um corpo começou a vazar resíduos", mas que iriam adquirir um caixão novo naquele mesmo dia e pediu para eles esperarem um pouco.
A istração do parque atrasou o procedimento por mais de três horas, dizem os filhos. Com isso, chamaram a polícia, e só após a pressão uma funcionária disse a eles que o corpo teria sido cremado por engano. Foi confundido com o de uma mulher que fora enterrada na mesma quadra do cemitério onde estava Odair.
A família não aceita esta versão dos fatos. "Nosso pai foi enterrado com a roupa de babalorixá. As mulheres na umbanda usam lenços", disse Kleber dos Santos, também filho do pai de santo. "Como eles confundem o corpo de uma mulher com o de um homem? A lápide tinha foto dele. Alegaram ainda que o rapaz da cremação não tinha instrução, mas falamos com o sobrinho dele e ele sabe sim ler e escrever", disse Flávia.
Em vida, Odair deixou claro que não queria ser cremado. Muitos praticantes da umbanda são contra a prática, o que era o caso dele. "Nosso preceito espiritual diz que temos que voltar para a terra de onde viemos. Isso ele pontuava muito forte, achava a cremação abominável. Por isso compramos um jazigo para ele e os demais da família", disse Kleber.
Objetivo dos filhos é ir à Justiça. Eles querem denunciar a Velar no Ministério Público nas esferas criminal, cível e istrativo. No artigo 212 do Código Penal Brasileiro, o vilipêndio de cadáveres prevê pena de um a três anos de detenção e multa.
Outro lado
Velar pediu desculpas e propôs pagar os custos. "A concessionária lamenta profundamente o ocorrido e esclarece que procurou a família assim que soube dos fatos. (..) Por um erro humano e isolado, os despojos, que deveriam ser transferidos para jazigo familiar após a exumação, foram encaminhados para cremação. (...) Apesar de encontros entre representantes da empresa e familiares, não foi possível chegar a uma solução comum. Continuamos à disposição para o diálogo e todos os valores cobrados pelos procedimentos serão devolvidos integralmente à família.", disse em nota enviada à reportagem. O novo caixão e o transporte custaram R$ 1.412 à família.