Wall Street teme que imposto sobre investimento estrangeiro reduza demanda por ativos dos EUA
Por Carolina Mandl
NOVA YORK/LONDRES (Reuters) - Analistas de Wall Street estão alertando que um imposto direcionado a investidores estrangeiros, previsto no projeto de lei orçamentária dos EUA em tramitação no Congresso, pode pesar na demanda por títulos do Tesouro norte-americano e por dólar.
A Câmara dos Representantes dos EUA aprovou um amplo projeto de lei sobre impostos e gastos que inclui a possibilidade de impor uma carga tributária progressiva de até 20% sobre a renda iva de investidores estrangeiros, como dividendos e royalties.
O imposto, incluído na seção 899, seria pago por entidades como fundos soberanos e empresas com negócios nos EUA ou indivíduos de países que impõem impostos que os EUA consideram injustos, incluindo impostos sobre serviços digitais.
"Vemos essa legislação como uma forma de criar espaço para que o governo dos EUA transforme uma guerra comercial em uma guerra de capital, se assim desejar", disse George Saravelos, chefe de pesquisa de câmbio do Deutsche Bank, em nota na quinta-feira. Ele acrescentou que o novo imposto pode ter um impacto adverso na demanda por títulos do Tesouro dos EUA.
Se aprovado pelo Senado, o aumento da taxa de imposto sobre investimentos estrangeiros ocorrerá em um momento em que investidores globais começam a questionar o chamado "excepcionalismo dos EUA", ou sua capacidade única de superar outros mercados financeiros, devido a um crescente déficit fiscal e a uma nova política comercial baseada em tarifas.
A empresa de serviços financeiros Brown Brothers Harriman (BBH) disse em nota que a nova taxa de imposto era "brincar com fogo".
"Isso desencorajaria o investimento estrangeiro em ativos americanos em um momento em que o país enfrenta uma dependência cada vez maior de capital estrangeiro para financiar sua dívida crescente. Claramente, isso não é bom para o dólar", disse Elias Haddad, estrategista sênior de mercados do BBH.
Se também for aprovado pelo Senado, o imposto poderá arrecadar US$116 bilhões ao longo de dez anos, afirmou o Escritório de Orçamento do Congresso, com base em estimativas produzidas pelo Comitê Conjunto de Tributação. Ainda assim, as receitas permaneceriam praticamente estáveis em 2032, e a provisão poderia se transformar em prejuízos em 2033 e 2034, de acordo com os cálculos.
A Nomura disse que provavelmente haverá uma resistência à nova taxa de imposto ou negociações para buscar isenções para títulos do Tesouro e títulos lastreados em hipotecas de agências. A instituição considera que o ônus sobre investidores estrangeiros pode ter consequências não intencionais para esses ativos.
Rajeev Thakkar, diretor de investimentos e diretor do PPFAS Mutual Fund, disse que um aumento nas taxas de impostos sobre os investidores "pode reduzir um pouco o apetite deles".
FRAQUEZA DO DÓLAR
Geoff Yu, estrategista macroeconômico da EMEA no BNY em Londres, disse que, com base em sua observação dos fluxos de investidores, não houve uma reação imediata.
"Os títulos do Tesouro estão oferecendo valor agora -- você está obtendo rendimentos mais altos, o dólar está mais fraco", disse ele, o que compensa outros fatores.
Os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA de dez anos estão sendo negociados em torno de 4,4% nesta sexta-feira.
Outros analistas observaram uma perspectiva de longo prazo mais pessimista para os mercados dos EUA.
O Morgan Stanley disse em nota que o novo imposto enfraqueceria o dólar, pois reduziria o apetite estrangeiro por ativos norte-americanos.
O dólar caiu cerca de 8% neste ano em relação a uma cesta de outras moedas importantes e está a caminho de seu pior ano desde 2017.
De acordo com o escritório de advocacia Davis Polk, os países que podem ser considerados "países estrangeiros discriminatórios" incluem muitos que fazem parte da União Europeia, assim como Índia, Brasil, Austrália e Reino Unido.
Empresas internacionais com subsidiárias nos EUA, que empregam 8,4 milhões de trabalhadores, também temem que o aumento da carga tributária possa dificultar a operação na maior economia do mundo.
Em um comunicado recente, a Global Business Alliance, que representa empresas estrangeiras nos EUA, afirmou que um aumento de impostos ameaçaria os investimentos no país.
A Casa Branca não comentou imediatamente sobre o impacto da nova carga tributária.
(Reportagem de Carolina Mandl em Nova York; reportagem adicional de Elisa Martinuzzi e Dhara Ranasinghe em Londres, Lewis Krauskopf em Nova York, Jaspreet Singh Kalra em Mumbai)