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Monumento ao ditador soviético Josef Stalin no metrô de Moscou gera debate

22/05/2025 13h12

MOSCOU (Reuters) - Um monumento ao ditador soviético Josef Stalin erguido no metrô de Moscou está gerando debate, com alguns russos o recebendo como uma homenagem histórica, enquanto outros dizem que é um erro homenagear alguém que causou tanto sofrimento.

A escultura de parede em tamanho real na estação de metrô Taganskaya retrata Stalin em pé na Praça Vermelha de Moscou, cercado por uma multidão de cidadãos soviéticos olhando para ele com iração. Ela é uma recriação de um monumento que foi inaugurado na mesma estação em 1950, três anos antes da morte de Stalin.

O metrô de Moscou disse que o monumento original a Stalin foi "perdido" em 1966, quando a estação de metrô Taganskaya, que o abrigava, foi reconfigurada.

Quase 700.000 pessoas foram executadas no Grande Terror de Stalin, no período 1937-38, em meio a julgamentos simulados e expurgos de seus inimigos reais e imaginários. Muitos outros cidadãos soviéticos foram enviados para o Gulag, uma sinistra rede de campos de concentração espalhados pelo maior país do mundo.

O metrô de Moscou disse em um comunicado que a nova versão do monumento, que foi apresentada ao público em 15 de maio, foi um de seus "presentes" aos ageiros para marcar o 90º aniversário do sistema de transporte.

O título original da obra -- "Gratidão do Povo ao Líder e Comandante" -- foi dedicado ao papel de Stalin na vitória da União Soviética na Segunda Guerra Mundial, cujo 80º aniversário a Rússia comemorou com pompa este ano.

"Este homem (Stalin) criou muita coisa", disse Yevgeny Ivanov, morador de Moscou que foi ver o novo monumento na quarta-feira.

"Ele tem algo do que se orgulhar. E não cabe a nós destruí-lo. Um homem fez algo -- devemos respeitar o que ele fez."

Kirill Frolov, outro morador da capital, disse que aceitava que o histórico de Stalin era misto e que não é possível chamá-lo de "bom".

Mas ele disse que o papel de Stalin como vencedor na Segunda Guerra Mundial e sua bem-sucedida industrialização da União Soviética significavam que ele havia alcançado resultados reais e merecia ser lembrado.

"Este homem fez mais pelo nosso país do que qualquer outra pessoa. É por isso que acho que este (o novo monumento) é bom e deveria haver mais... Porque a geração, digamos, dos anos 2000 em diante, não entende realmente quem é este."

Outros condenaram o monumento.

A filial de Moscou do partido liberal Yabloko emitiu um protesto formal contra o que chamou de devolução de um monumento a "um tirano e ditador". Além disso, exigiu que o metrô de Moscou se concentrasse em homenagear as vítimas das repressões de Stalin.

"O retorno de símbolos do stalinismo a Moscou é um ataque à história e um ato de zombaria contra os descendentes dos reprimidos", disse o Yabloko em um comunicado.

Indivíduos não identificados inicialmente deixaram duas placas no monumento contendo citações do presidente russo Vladimir Putin e do ex-presidente Dmitry Medvedev, que criticavam Stalin. Elas foram posteriormente removidas.

DESESTALINIZAÇÃO

O líder soviético Nikita Khrushchev denunciou Stalin por sua brutalidade e crimes em 1956. Imagens de Stalin seriam posteriormente removidas sistematicamente como parte de uma campanha de desestalinização. Nos últimos anos, alguns monumentos a Stalin começaram a reaparecer em alguns lugares, embora seu legado continue profundamente controverso.

Alexander Zinoviev, pesquisador e especialista em arquitetura soviética, disse que sentiu que o novo monumento e o período que ele evocava tinham alguns paralelos com o clima atual dentro da Rússia, em um momento em que o país está em um ime com o Ocidente por causa da guerra na Ucrânia.

"É o mesmo autoisolamento, é a mesma ideologia conservadora e a confiança na nossa própria força", disse.

"E esse tema com Stalin, com sua estética... de que precisamos confiar em nosso líder, ser felizes e não criticar aqueles que estão no poder, está muito em sintonia com a nossa época."

(Reportagem da redação de Moscou; texto de Andrew Osborn)

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