Topo
Notícias

Vladimir foi Manuel: quem eram espiões russos no Brasil e que nomes usaram

Seis espiões russos na lista da Interpol, a partir da esquerda: Yekaterina Leonidovna Danilova, Vladimir Aleksandrovich Danilov, Olga Igorevna Tyutereva, Aleksandr Andreyevich Utekhin, Irina Alekseyevna Antonova e Roman Olegovich Koval - Reprodução/NYT/Interpol
Seis espiões russos na lista da Interpol, a partir da esquerda: Yekaterina Leonidovna Danilova, Vladimir Aleksandrovich Danilov, Olga Igorevna Tyutereva, Aleksandr Andreyevich Utekhin, Irina Alekseyevna Antonova e Roman Olegovich Koval Imagem: Reprodução/NYT/Interpol
do UOL

Maurício Businari

Colaboração para o UOL

22/05/2025 13h08

Agentes secretos da Rússia adotaram identidades brasileiras para forjar vidas comuns no país antes de partir em missões internacionais, segundo a PF (Polícia Federal).

O que aconteceu

Por anos, o Brasil serviu como ponto de partida para a elite da espionagem russa, segundo uma reportagem do jornal "The New York Times". Em silêncio, agentes do Kremlin apagaram o ado soviético e assumiram nomes, documentos e profissões brasileiros. Fingiam ser empreendedores, modelos, acadêmicos, casais apaixonados. Abriram empresas, construíram vínculos e viveram entre a população —até desaparecerem, quase sempre, antes que fossem desmascarados.

A investigação da Polícia Federal, batizada de Operação Leste, já identificou pelo menos nove agentes russos com identidades brasileiras falsas. Apenas um está preso. Os demais escaparam, a maioria para países como Uruguai, Portugal e Namíbia. Confira os nomes brasileiros que nunca existiram —e os rostos por trás da farsa.

Victor Muller Ferreira

  • Nome verdadeiro: Sergey Vladimir Cherkasov
  • Descoberto em: abril de 2022
  • Primeiro a ser desmascarado pela PF após alerta da CIA. Cherkasov tentou se infiltrar no Tribunal Penal Internacional, na Holanda, usando identidade brasileira. Tinha documentos autênticos: aporte, título de eleitor e certificado militar. Foi preso no Brasil por falsidade ideológica e segue detido em Brasília.
Sergey Vladimirovich Cherkasov (Victor Muller Ferreira) - Reprodução/Gabinete do Procurador do Distrito de Columbia (EUA) - Reprodução/Gabinete do Procurador do Distrito de Columbia (EUA)
Sergey Vladimirovich Cherkasov (Victor Muller Ferreira)
Imagem: Reprodução/Gabinete do Procurador do Distrito de Columbia (EUA)

Gerhard Daniel Campos Wittich

  • Nome verdadeiro: Artem Shmyrev
  • Descoberto em: dezembro de 2022
  • Empresário do ramo de impressão 3D no Rio, vivia com uma brasileira e tinha rotina comum. Após monitoramento da PF, fugiu do Brasil dias antes da emissão do mandado de prisão. Deixou para trás R$ 60 mil em espécie, equipamentos eletrônicos e mensagens trocadas com a esposa russa, também agente.
Artem Shmyrev (Gerhard Daniel Campos Wittich) - Reprodução/Redes Sociais - Reprodução/Redes Sociais
Artem Shmyrev (Gerhard Daniel Campos Wittich)
Imagem: Reprodução/Redes Sociais

Eric Lopes

  • Nome verdadeiro: Aleksandr Andreyevich Utekhin
  • Descoberto em: início de 2023
  • Se apresentava como joalheiro e chegou a pagar para aparecer em programa de TV. Falava português com sotaque, evitava entrevistas e usava funcionários como fachada. Quando a PF chegou às lojas, ele já havia desaparecido. Investigações apontam agem pelo Oriente Médio.
Aleksandr Andreyevich Utekhin (Eric Lopes) - Reprodução/NYT - Reprodução/NYT
Aleksandr Andreyevich Utekhin (Eric Lopes)
Imagem: Reprodução/NYT

Manuel Francisco e Adriana Carolina Pereira

  • Nomes verdadeiros: Vladimir Danilov e Yekaterina Danilova
  • Descobertos em: 2023 (reconhecimento via inteligência internacional)
  • Casal russo que viveu no Brasil até 2018 e depois se mudou para Portugal. As identidades falsas foram desmascaradas com a ajuda de agências ocidentais. Desapareceram antes de a PF agir.
O casal Vladimir Aleksandrovich Danilov (Manuel Francisco Pereira) e Yekaterina Leonidovna Danilova (Adriana Carolina Pereira) - Reprodução/NYT - Reprodução/NYT
O casal Vladimir Aleksandrovich Danilov (Manuel Francisco Pereira) e Yekaterina Leonidovna Danilova (Adriana Carolina Pereira)
Imagem: Reprodução/NYT

Maria Isabel Moresco Garcia

  • Nome verdadeiro: não divulgado
  • Descoberta em: 2023
  • Espiã loira, que se apresentava como modelo brasileira. Vivia com Federico Luiz Gonzalez Rodriguez, também com identidade brasileira falsa. Ambos usavam documentos brasileiros e deixaram o país antes de serem localizados. Acredita-se que tenham seguido para a Europa.

Maria Luisa Dominguez Cardozo

  • Nome verdadeiro: Olga Igorevna Tyutereva
  • Descoberta em: outubro de 2024 (via alerta da Interpol emitido pelo Uruguai)
  • Obteve documentos no Brasil e depois aporte uruguaio. A última localização confirmada foi na Namíbia. Está na lista de alertas azuis da Interpol.
Olga Igorevna Tyutereva (Maria Luisa Dominguez Cardozo) - Reprodução/NYT - Reprodução/NYT
Olga Igorevna Tyutereva (Maria Luisa Dominguez Cardozo)
Imagem: Reprodução/NYT

Roman Olegovich Koval e Irina Alekseyevna Antonova

  • Nomes brasileiros não divulgados
  • Descobertos em: final de 2024
  • O casal vivia com identidades brasileiras ainda não divulgadas. Ambos deixaram o Brasil em 2023 rumo ao Uruguai e foram identificados posteriormente pelas autoridades. Foram identificados após trocas de informações com agências internacionais de inteligência. Seus nomes reais constam nos alertas azuis da Interpol.
O casal Roman Olegovich Koval e Irina Alekseyevna Antonova - Reprodução/NYT - Reprodução/NYT
O casal Roman Olegovich Koval e Irina Alekseyevna Antonova
Imagem: Reprodução/NYT

Por que o Brasil?

Segundo o New York Times, o aporte brasileiro foi um dos principais atrativos para os espiões russos. Com ele, é possível entrar em dezenas de países sem necessidade de visto, o que facilita missões internacionais sem levantar suspeitas em fronteiras.

Outro ponto destacado pela reportagem é a miscigenação da população brasileira. De acordo com investigadores citados pelo jornal, pessoas com traços europeus ou sotaques leves am despercebidas, o que ajuda os agentes russos a manterem o disfarce por mais tempo.

Além disso, a vulnerabilidade do sistema de registros civis foi explorada pelos infiltrados. Em áreas rurais do Brasil, a emissão de certidões de nascimento pode ocorrer apenas com o testemunho de terceiros, sem necessidade de comprovação médica. Conforme apurou o NYT, essa brecha permitiu a criação de identidades completamente novas com documentos autênticos, mas baseados em dados fictícios.

Notícias