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OPINIÃO

Dono do 'parquinho', Medina escancara mais uma vantagem de piscinas de onda

do UOL

Guilherme Dorini

Colaboração para o UOL

22/05/2025 05h30

Pouco a pouco, as piscinas de onda vão deixando para trás a imagem de playground para surfistas e assumindo um papel cada vez mais estratégico no alto rendimento.

Medina é sócio da Beyond the Club - Instagram/@gabrielmedina - Instagram/@gabrielmedina
Medina é sócio da Beyond the Club
Imagem: Instagram/@gabrielmedina

A primeira impressão, quando começaram a surgir, era justamente essa: diversão, conforto e praticidade para quem gosta do surfe. Depois veio a constatação de que elas poderiam ser úteis no desenvolvimento da nova geração.

Na sequência, vimos surfistas de elite - como Italo Ferreira - transformando as ondas artificiais em laboratórios de performance, para testar manobras e aprimorar repertório técnico.

Agora, Gabriel Medina aponta para mais uma camada de valor nesse cenário: o potencial das piscinas no processo de recuperação física.

Medina ou quatro meses fora do surfe após uma cirurgia no ombro. Seu retorno não aconteceu em Maresias, Saquarema ou qualquer outra onda do Circuito Mundial - mas sim na piscina. Um ambiente controlado, com ondas previsíveis, tempo delimitado de sessão e menor exigência física. Um espaço ideal para retomar aos poucos os movimentos e reconstruir a confiança.

E Medina é um privilegiado nesse contexto: sócio do Beyond the Club, na capital paulista, ele tem uma piscina à disposição sempre que quiser - o que, convenhamos, é um diferencial e tanto.

Num papo recente com Alexander Rehder, fisioterapeuta do tricampeão mundial, fica evidente o quanto a piscina muda o jogo:

O principal da piscina para o surfista profissional é que você pode periodizar. Pré-temporada, volta de lesão, retorno ao ritmo... Você determina o tempo de surfe, o que o cara vai fazer. Tem controle.
Alexander Rehder, ao UOL

A comparação com outros esportes deixa claro o desafio do surfe de alto nível:

"Se eu pego um atleta da natação, do vôlei, do atletismo... É tudo mais fácil. Tem horário: treina às 8h, academia às 9h, almoça, descansa, volta a treinar. Com o surfe não tem isso."

Essa imprevisibilidade é uma pedra no sapato de quem tenta montar um cronograma de treino ou reabilitação.

Alexander Rehder trabalha há anos com Medina - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Alexander Rehder trabalha há anos com Medina
Imagem: Reprodução/Instagram

"Você fala pro cara: 'vamos treinar força essa semana?' Beleza. Mas aí entra um swell clássico, o cara surfa seis horas num dia. Acabou. No outro, ele está cansado. Não tem mais treino", completou Rehder.

É complicado. Como é que você segura o cara? Tem dois metros clássicos em Maresias, 'mas Gabriel, você só pode surfar meia hora de manhã e meia hora a tarde...' Não existe.
Alexander Rehder

É justamente nesse ponto que a piscina assume protagonismo. Permite ao atleta manter uma rotina, controlar as cargas, fazer sessões específicas de manobra ou tempo de remada.

Não é coincidência que Medina tenha escolhido a piscina como recomeço. E talvez, a partir desse exemplo, mais atletas em a enxergar o valor desse recurso. Não só como playground ou laboratório de performance, mas também como uma plataforma eficaz de transição e recuperação.

A piscina não vai substituir o mar - e nunca foi essa a proposta. Mas, a cada novo uso, ela se consolida como parte indispensável de uma estrutura de alto rendimento. E o surfe profissional só tem a ganhar com isso.

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