Indústria alemã perde 100 mil postos de trabalho em 12 meses
Indústria alemã perde 100 mil postos de trabalho em 12 meses - Setor automotivo foi o mais afetado, com 45,4 mil vagas cortadas. Montadoras enfrentam concorrência externa, transição para mobilidade elétrica e alta nos custos de energia.A crise econômica enfrentada pela Alemanha custou mais de 100 mil empregos à indústria do país nos últimos 12 meses, segundo uma análise realizada pela empresa de auditoria e consultoria EY.
Ao final do primeiro trimestre de 2025, a indústria alemã empregava 5,46 milhões de pessoas – uma queda de 1,8% ou 101 mil empregos em comparação com o ano anterior.
O setor automotivo foi o mais afetado, com 45,4 mil vagas cortadas no período.
O número de pessoas empregadas na indústria vem caindo desde o período pré-pandemia. Nos últimos 6 anos, a redução foi de 217 mil postos de trabalho. Em 2018, o país havia atingido um recorde de cerca de 5,7 milhões de trabalhadores no setor.
"As empresas industriais estão sob imensa pressão", afirmou Jan Brorhilker, sócio-gerente da EY. "Concorrentes agressivos, especialmente da China, estão forçando a queda dos preços, os principais mercados consumidores estão enfraquecendo, a demanda na Europa está estagnada em um nível baixo e há uma grande incerteza em torno de todo o mercado dos EUA", disse.
Segundo ele, o alto custo de energia e mão de obra no país também afeta o mercado. Tais desafios também minaram o crescimento da economia alemã nos últimos dois anos.
O estudo da EY se baseia em dados do Escritório Federal de Estatísticas da Alemanha.
Setor prevê mais cortes até o final do ano
Segundo Brorhilker, mais cortes são esperados até o final do ano, uma vez que a receita da indústria alemã continua em leve declínio, após enfrentar uma queda mais acentuada no início de 2024.
Brorhilker prevê que pelo menos mais 70 mil empregos industriais serão perdidos até o final de 2025. Diversas empresas dos setores de engenharia mecânica e automotiva, como a Volkswagen, a Audi e a Porsche, já iniciaram programas de redução de custos.
"Continuaremos ouvindo muitas más notícias por enquanto, antes que a situação volte a melhorar."
Desempenho varia entre os setores
No setor automotivo, que sofre com a baixa demanda, concorrência chinesa e a transição para a mobilidade elétrica, quase 6% dos empregos foram perdidos em um ano. O número de trabalhadores caiu para cerca de 734 mil ao final de março.
O emprego também recuou significativamente nos setores de produção de metais e indústria têxtil, com reduções acima de 4% cada. Em contraste, os setores químico e farmacêutico tiveram perdas mínimas, de 0,3%.
Setor automotivo pede reformas
A crise na indústria alemã gerou um alerta sobre o risco de desindustrialização no país.
"O setor industrial alemão já foi declarado morto várias vezes, mas tem se mostrado notavelmente resiliente graças às suas bases sólidas", disse Brorhilker.
Ele lembra que, no longo prazo, o emprego industrial cresceu. Em 2024 havia 185 mil pessoas a mais empregadas do que em 2014, segundo o Escritório Federal de Estatísticas.
A Associação Alemã da Indústria Automotiva (VDA) responsabiliza o governo federal pelo cenário conturbado. "A competitividade e a atratividade da Alemanha como local de produção devem ser os princípios orientadores do novo governo federal", disse o presidente da VDA, Hildegard Müller.
O chanceler federal alemão Friedrich Merz aposta em um superpacote de gastos para reativar o setor.
Indústria vê com otimismo encontro entre Merz e Trump
Por outro lado, a principal organização industrial da Alemanha recebeu positivamente a reunião entre Merz e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ocorrida esta semana.
Segundo Wolfgang Niedermark, membro do conselho executivo da Federação das Indústrias Alemãs (BDI), o encontro deve facilitar as negociações tarifárias entre União Europeia e EUA.
Em entrevista ao jornal alemão Rheinische Post, Niedermark destacou que a "turbulência da política comercial" imposta pelo republicano contribuiu para o recuo de investimentos na indústria alemã.
As barreiras comerciais fizeram o governo alemão reduzir sua previsão de crescimento econômico.
Embora Trump tenha suspendido temporariamente algumas tarifas contra a UE em abril, Bruxelas e Washington ainda enfrentam dificuldades para encontrar uma solução para a disputa comercial.
Veículos elétricos crescem
O setor automotivo alemão, porém, viu um leve salto de 1,2% nas vendas de carros elétricos em maio ado, segundo a autoridade federal de transportes KBA.
O número de veículos elétricos (EVs) registrados no país também cresceu no período, a 45%, o que compensou as quedas nas vendas de veículos a gasolina e a diesel.
A maior beneficiada, porém, é a chinesa BYD. Os registros de carros da marca aumentaram mais de 800% em relação ao ano anterior, para quase 1.860 veículos.
Já a Tesla, de Elon Musk, viu suas vendas caírem novamente no país, desta vez em 36%. O bilionário norte-americano enfrenta hostilidade na Alemanha por ter apoiado o partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) antes das eleições gerais de fevereiro.
gq (dw, afp, dpa)