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China denuncia "politização" da educação após Trump proibir matrícula de estrangeiros em Harvard

23/05/2025 06h19

Pequim criticou nesta sexta-feira (23) a "politização" da educação após a decisão do governo americano de retirar da Universidade de Harvard o direito de matricular estudantes estrangeiros, muitos deles chineses. 

"A China sempre se opôs à politização da cooperação educacional", disse Mao Ning, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, em entrevista coletiva. "A atitude dos Estados Unidos apenas prejudicará sua imagem e reputação internacional", afirmou. 

Na quinta-feira (22), o governo Trump proibiu Harvard de receber estudantes estrangeiros. A medida retira da instituição um importante instrumento de influência global e é vista como mais um o na ofensiva do governo Trump contra o ensino superior. 

Segundo o site da universidade, considerada uma das melhores do mundo, Harvard recebe cerca de 6.700 estudantes internacionais ? 27% do total ? e já formou 162 ganhadores do Prêmio Nobel

Perda financeira

"A certificação do programa Sevis (Student and Exchange Visitor) da Universidade de Harvard foi revogada com efeito imediato", escreveu a secretária de Segurança Interna dos Estados Unidos, Kristi Noem, em carta enviada à instituição. 

Com a revogação, a Harvard está proibida de receber estudantes com vistos F ou J no ano letivo de 2025-2026. Esses vistos são usados principalmente por estudantes e acadêmicos estrangeiros. 

A medida representa uma perda potencial significativa para a universidade, tanto financeira quanto em prestígio internacional. 

"Essa decisão é a mais recente de uma série de medidas de retaliação e autoritarismo flagrante contra a mais antiga instituição de ensino superior dos Estados Unidos", afirmou a Associação Americana de Professores Universitários (AAUP). "O governo Trump tenta destruir ilegalmente o ensino superior no país." 

Ultimato 

Segundo Noem, os estudantes estrangeiros já matriculados devem pedir transferência para outras instituições. Foi o que fez o universitário austríaco Karl Molden, 21 anos, que se transferiu para a Universidade de Oxford, no Reino Unido. "Entrar em Harvard foi o maior privilégio da minha vida", disse. "Mas os Estados Unidos estão se tornando cada vez menos atraentes para o ensino superior." 

Kristi Noem impôs ainda um ultimato: se quiser reverter a decisão, Harvard deve fornecer, em até 72 horas, informações sobre supostas atividades ilegais de seus estudantes estrangeiros nos últimos cinco anos. 

"A decisão do governo é ilegal", respondeu um porta-voz da universidade. "Estamos totalmente comprometidos em manter a capacidade de Harvard de receber estudantes e acadêmicos internacionais, que vêm de mais de 140 países e enriquecem a universidade e o país." 

Harvard já havia processado o governo semanas antes, após a suspensão de auxílios federais. 

Ofensiva contra universidades 

O governo Trump tem acusado instituições como Harvard e Columbia de tolerarem o antissemitismo e de não protegerem estudantes judeus em protestos contra a guerra de Israel em Gaza. 

Republicanos criticam as universidades por promoverem ideias progressistas. Já entidades de defesa das liberdades civis veem nas ações uma tentativa de censurar críticas à política israelense. 

Na carta divulgada, Noem acusa Harvard de se recusar a colaborar com o governo, manter um ambiente hostil a estudantes judeus e adotar políticas de diversidade, igualdade e inclusão, consideradas "racistas" pela istração Trump. 

Defensores dessas políticas argumentam que elas buscam corrigir desigualdades históricas na sociedade americana. 

O governo já havia cortado mais de US$ 2 bilhões em subsídios à universidade, afetando programas de pesquisa. Harvard respondeu com ações judiciais, apoiadas por estudantes e professores. 

"Estamos trabalhando para orientar e apoiar nossa comunidade. Essa retaliação ameaça gravemente Harvard e compromete sua missão acadêmica e científica", disse o porta-voz da instituição. 

Para a estudante Alice Goyer, a notícia gerou incerteza entre os colegas estrangeiros. "Todos estão um pouco em pânico", disse, esperando uma "batalha judicial" contra a decisão. 

(Com informações da AFP)

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