[Coluna] Quanto custa ignorar os professores
[Coluna] Quanto custa ignorar os professores - Futuro do Brasil está sendo construído por docentes exaustos, invisíveis e tratados como obstáculo orçamentário pelos governos.Ser docente no Brasil tornou-se mais um ato de resistência do que um sonho profissional. Professores seguem entre os menos remunerados do mundo. Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), os docentes brasileiros recebem menos da metade da média internacional, o que ultraa o aceitável. Salários baixos geram não só dificuldades financeiras, mas também um desgaste que não pode ser naturalizado.
Noto que essa realidade é frequentemente ignorada pelas autoridades políticas. Governos estaduais e federais se revezam sem jamais colocar a remuneração docente no centro do debate. Não importa quem ocupe a presidência ou os governos estaduais: o silêncio sobre o salário digno dos professores é constante. Esse tabu se traduz em abandono prático. Escolas sucateadas e salas de aula superlotadas são apenas alguns dos efeitos.
Embora a questão não seja só financeira, é impossível desvincular salário digno de respeito profissional. É um paradoxo exigir que docentes istrem turmas com até 40 alunos, enfrentando demandas intensas, sem garantir a dignidade mínima. O Brasil precisa repensar esse descaso como parte de sua identidade educacional. Ignorar professores é negar o próprio futuro.
A armadilha da invisibilidade
É desconcertante perceber que o salário dos professores brasileiros, segundo a Unesco, é quase 40% inferior ao de outros profissionais com mesma formação. Isso não é apenas desigualdade: é desprezo institucionalizado. Um país que financia obras bilionárias não pode alegar falta de verbas para quem constrói futuros todos os dias.
Além do desprestígio salarial, pesa o silêncio dos gestores diante das greves e mobilizações docentes. Manifestações por melhores condições são ignoradas ou tratadas como desvios. Esse desdém, refletido na falta de diálogo, gera adoecimento e sobrecarga. O aumento de licenças por questões psiquiátricas expõe essa negligência.
Mas talvez o mais corrosivo seja como esse silêncio alimenta o mito do "sacerdócio". Não, ser professor não é vocação divina. Professores precisam de respeito, dignidade e condições reais de trabalho, não de romantização da precariedade. Enquanto essa visão persistir, pouco mudará na educação brasileira.
Caminhos para valorizar o magistério brasileiro
Apesar da acidez necessária para o debate, é preciso apontar saídas. Valorizar o professor requer uma política clara de reajuste salarial, alinhada à média internacional. Isso demanda compromisso político e coragem para enfrentar grupos que lucram com a precarização da educação pública.
Outra medida urgente é rever as condições de trabalho. Reduzir o número de alunos por sala e garantir e pedagógico e psicológico constante não é luxo, é o mínimo. Um ambiente acolhedor torna a profissão uma escolha legítima, não uma imposição.
Os(as) professores(as) já mostraram força e resiliência, mas precisam ser ouvidos e valorizados concretamente. Investir no magistério é investir, de fato, no futuro do país.
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Vozes da Educação é uma coluna semanal escrita por jovens do Salvaguarda, programa social de voluntários que auxiliam alunos da rede pública do Brasil a entrar na universidade. Revezam-se na autoria dos textos o fundador do programa, Vinícius De Andrade, e alunos auxiliados pelo Salvaguarda em todos os estados da federação. Siga o perfil do Salvaguarda no Instagram em @salvaguarda1.
Este texto foi escrito pelo professor e pesquisador especializado em educação Everton Fargoni e reflete a opinião do autor, não necessariamente a da DW.Autor: Everton Fargoni