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Trump constrange presidente sul-africano com acusações de genocídio contra brancos

21/05/2025 22h17

Donald Trump surpreendeu o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, nesta quarta-feira (21), ao lhe mostrar um vídeo que supostamente comprova as acusações americanas de um genocídio contra pessoas brancas no país africano.

Durante um encontro oficial com Ramaphosa na Casa Branca, Trump pediu que as luzes fossem apagadas para projetar um vídeo em um telão, afirmando que mostrava políticos sul-africanos negros instando à perseguição de fazendeiros brancos. 

" Você permite que eles tomem terras e, quando eles tomam as terras, matam o fazendeiro branco, e quando matam o fazendeiro branco, nada acontece com eles", disse Trump. Também exibiu clippings de imprensa que, segundo ele, respaldam suas afirmações, apesar de um deles conter uma foto da República Democrática do Congo.

Ramaphosa negou que o seu país esteja confiscando terras de agricultores brancos no âmbito de uma lei de expropriação aprovada em janeiro, com a qual se pretende corrigir as desigualdades históricas do domínio da minoria branca.

"Não, não, não, não", disse Ramaphosa. "Ninguém pode tomar terras."

O líder sul-africano tentou falar diversas vezes durante a reprodução da gravação de quatro minutos, mas o próprio Trump o interrompia. "Onde é isto?", questionou Ramaphosa enquanto se mexia inquieto em sua cadeira.

A visita do governante da África do Sul era uma oportunidade para suavizar as relações diplomáticas depois que Trump e seu assessor próximo de origem sul-africana, o bilionário Elon Musk, também presente no Salão Oval, denunciaram, sem fundamento, esse genocídio.

Musk é um dos principais impulsionadores dessas afirmações.

"Estamos aqui essencialmente para restabelecer a relação entre os Estados Unidos e a África do Sul", disse Ramaphosa, que é negro, e foi ao encontro acompanhado de três homens brancos: Ernie Els e Retief Goosen, dois famosos golfistas sul-africanos, e Johann Rupert, o homem mais rico de seu país.

- 'Muita calma' -

Nas imagens, o legislador opositor de extrema esquerda Julius Malema aparecia cantando "Kill the Boer, kill the farmer" ("Mate o colonizador, mate o fazendeiro", em tradução livre), uma canção infame que data da época da luta contra o domínio da minoria branca no apartheid.

O vídeo terminou com imagens de um protesto na África do Sul, no qual cruzes brancas foram instaladas ao longo de uma estrada rural representando fazendeiros assassinados, mas Trump afirmou falsamente que mostravam suas sepulturas.

A imprensa estava presente e, em certo ponto, Ramaphosa suplicou para que "falassem do assunto com muita calma".

"Nelson Mandela nos ensinou que, sempre que há problemas, as pessoas devem se sentar à mesa e conversar. E é precisamente disso que nós também queremos falar", afirmou.

A cena lembrou o episódio ocorrido em fevereiro, quando Trump e seu vice-presidente, J.D. Vance, bateram boca com o presidente ucraniano Volodimir Zelensky.

Ramaphosa pareceu estar mais preparado ao manter a calma e pedir uma melhora nas relações bilaterais.

- 'Um grande êxito' -

O presidente sul-africano também tentou fazer um balanço positivo da reunião e disse que espera que Trump participe da cúpula do G20 em Joanesburgo em novembro.

Comentou que os dois governantes "não insistiram" no assunto da violência contra as pessoas brancas durante o almoço e que os ministros de ambos os países conversaram sobre temas comerciais.

Além disso, comentou que não pensa que Trump acredite realmente que está acontecendo um genocídio, apesar do vídeo: "Ao final, acho que em sua cabeça há dúvidas e incredulidade sobre tudo isso", disse o líder sul-africano aos jornalistas.

Os dois golfistas também tentaram acalmar a situação quando Trump lhes pediu que falassem. "Queremos que as coisas melhorem em nosso país de origem", disse Els, ganhador de quatro majors.

Trump concedeu status de refugiados para um grupo de 49 sul-africanos brancos, descendentes de colonos europeus, que alegavam ser alvo de perseguição na África do Sul, apesar de impulsionar uma política de linha-dura contra a imigração aos Estados Unidos e conter a entrada de solicitantes de asilo.

Ramaphosa ressaltou que, em seu país, a principal vítima da criminalidade é a população negra.

Os brancos concentram a maior parte das terras na África do Sul, apesar de representarem apenas 7,3% da população do país.

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© Agence -Presse

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