Por que baterias de lítio suspenderam transportes aéreos dos Correios

A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) suspenderá todas as operações de transporte aéreo dos Correios a partir do dia 4 de junho. A empresa falhou no cumprimento de normas sobre transporte irregular de produtos perigosos, como baterias de íon de lítio, conforme a coluna de Mariana Barbosa.
O que aconteceu
Incêndio em avião desencadeou série de problemas. Em novembro, um avião da Total Linhas Aéreas, a serviço dos Correios, levava baterias de lítio sem aval da Anac. A aeronave teve um incêndio interno e precisou fazer um pouso de emergência no aeroporto de Guarulhos.
A Justiça suspendeu operações da Sideral Linhas Aéreas e da Total Linhas Aéreas. Elas são as únicas que prestam serviço à estatal e sabem que, a partir de 4 de junho, estão com as operações proibidas.
O acidente está sendo investigado. O Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) não concluiu as diligências, mas indícios apontam que o incêndio aconteceu devido a uma carga altamente inflamável.
Regras são descumpridas desde 2016. Conforme as investigações, a estatal descumpre as normas desde que foram criadas. Como há sigilo sobre o que é enviado pelos Correios, as empresas aéreas não têm autonomia para inspecionar o conteúdo. O piloto pode exigir saber o que há no pacote e vetar o transporte, mas, na prática, isso não acontece.
Os Correios se manifestaram sobre o caso e dizem estar comprometidos em cumprir a legislação vigente. "O problema decorre de práticas herdadas de gestões anteriores e representa mais um desafio que a atual istração está enfrentando para garantir a regularização completa do serviço. A empresa está adotando todas as medidas cabíveis para solucionar a situação no prazo estipulado, reafirmando o compromisso com a segurança das operações e o atendimento à população", diz a nota.
Transporte de lítio em aviões no mundo
O lítio está presente em celulares e cigarros eletrônicos. O material apresenta um risco crescente para os voos, pois pode apresentar mau funcionamento e produzir fumaça, fogo ou calor extremo durante os trajetos.
Baterias de lítio podem superaquecer. Com isso, aumenta o risco de curto-circuito que pode levar a incêndios. O seu mau uso também pode ajudar no desenvolvimento de problemas, liberando uma fumaça tóxica. Contudo, é sempre o calor em excesso - por sua má regulação - que leva a problemas com fogo.
Esse tipo de incêndio não deve ser apagado com água. Em contato com a bateria, a água pode aumentar a propagação com o fogo. O ideal é fazer uso de extintores classe D, projetados para apagar chamas em metais.
Desde março, é proibido guardar itens com bateria de lítio no compartimento de bagagem acima dos assentos na Coreia do Sul. Cada pessoa pode levar, no máximo, cinco baterias de 100 watts-hora, armazenadas em sacos plásticos transparentes, conforme o Ministério dos Transportes.
Nos Estados Unidos, baterias de lítio só podem ser levadas na bagagem de mão. A FAA (istração Federal de Aviação) e a TSA (istração de Segurança de Transportes) criaram a regra sobre o manuseio do material durante os deslocamentos.
Acidentes dobraram nos últimos seis anos. Segundo a Reuters, em 2024 foram registrados três superaquecimentos por semana — globalmente — em aviões, devido às baterias de lítio. Em 2018, esse número era inferior a um.
Correios em crise
A empresa anunciou um corte de gastos de R$ 1,5 bilhão. Em 2024, o prejuízo da empresa foi de R$ 2,6 bilhões. A informação consta em relatório de istração divulgado no começo de maio, no DOU (Diário Oficial da União). "O cenário apresentado revela desempenho financeiro negativo, com prejuízo de R$ 2,6 bilhões", diz o trecho.
Busca de 'fortalecimento'. Os Correios anunciaram um plano de redução de despesas, "com o objetivo de fortalecer a sustentabilidade financeira da empresa e garantir a continuidade dos serviços prestados à população", segundo trecho de nota enviada ao UOL Economia.
As ações buscam "otimizar processos, aumentar a eficiência e reforçar a capacidade de investimento da empresa", diz a estatal. Entre as medidas, estão um PDV e o retorno ao trabalho presencial, a partir de 23 de junho deste ano.
Com informações da Reuters.