Advogado indígena lidera corrida para presidir Suprema Corte do México
Por Sarah Morland e Raul Cortes
CIDADE DO MÉXICO (Reuters) - O defensor dos direitos indígenas Hugo Aguilar lidera a corrida para comandar o mais alto tribunal do México na primeira eleição popular do país para nomear juízes e magistrados, apontaram dados da autoridade eleitoral divulgados nesta terça-feira.
Com 90% dos votos contados na eleição de domingo, Aguilar teve cerca de 5,15 milhões de votos, ou 5,22% do total. Lenia Batres, uma aliada próxima do partido governista Morena, ficou atrás dele com 4,89 milhões de votos, ou 4,96%.
A maioria dos nove cargos da Suprema Corte segue no caminho de ser preenchida por pessoas ligadas ao Morena, segundo dados eleitorais. Mais de 3.000 candidatos concorreram a cargos judiciais em todo o país.
A presidente Claudia Sheinbaum comemorou a liderança de Aguilar, dizendo que o tribunal não tinha um líder indígena desde Benito Juárez, um zapoteca que liderou o tribunal em meados do século 19 antes de se tornar o primeiro presidente indígena do México.
"Ele é um advogado muito reconhecido e tem as credenciais para integrar a corte", disse Sheinbaum em uma coletiva de imprensa. "Esse é o objetivo: o igualitário à Justiça para todos os mexicanos. Como isso teria acontecido no processo anterior?"
Questionada sobre o sucesso de candidatos próximos ao seu partido, ela citou os boicotes da oposição à votação. "Como eles podem reclamar se decidiram não participar?", declarou.
Aguilar, advogado mixteca do Estado de Oaxaca, no sul do país, é atualmente coordenador líder de direitos do Instituto Nacional dos Povos Indígenas (INPI), tendo sido nomeado em 2018 pelo ex-presidente Andrés Manuel López Obrador.
Ele estudou Direito Constitucional e trabalhou em escritórios do governo como coordenador e consultor de direitos indígenas, assim como de assuntos fundiários e agrários.
A votação no domingo para cerca de 2.600 juízes e magistrados atraiu um comparecimento estimado em 13%. Críticos consideraram o processo muito complexo e disseram que a votação poderia prejudicar a independência do sistema judiciário do país.
No fim do mês ado, em um evento de campanha em sua cidade natal, San Agustin Tlacotepec, Aguilar disse que embora a reforma fosse controversa, os grupos indígenas a viam como uma oportunidade histórica de representação.
"Tradicionalmente, o tribunal tem tido juristas do setor privado e financeiro", disse Aguilar. "Não temos um advogado trabalhista que trate dos direitos dos trabalhadores, um advogado agrário que trate dos direitos rurais ou que entenda essa parte da população."
"Os direitos dos setores mais vulneráveis deste país devem ser importantes", acrescentou.
Aguilar, que prometeu vestir-se com trajes indígenas caso fosse eleito para a corte, disse que vai priorizar os direitos coletivos de tomada de decisão das comunidades indígenas.
Os grupos indígenas têm permissão para aplicar suas próprias tradições dentro dos limites da lei mexicana, mas surgiram conflitos sobre questões como casamento infantil e direitos ancestrais à terra que se chocam com projetos de mineração ou infraestrutura.
Cerca de 23 milhões de mexicanos -- aproximadamente 19% -- se identificam como indígenas, de acordo com o censo de 2020. Eles enfrentam uma pobreza desproporcional e baixa representação política.
(Reportagem de Sarah Morland e Raul Cortes na Cidade do México)