Contra suspensão de vistos, estudantes de Harvard irão protestar durante formatura

Universitários estrangeiros relatam medo e confusão após governo Trump suspender as entrevistas de visto. Harvard contesta tentativa de interferência do governo em sua autonomia.
A tradicional cerimônia de formatura da Universidade de Harvard, marcada para esta quinta-feira (29), acontece em meio à tensão e à expectativa de protestos. O clima no campus se agravou após o governo Trump anunciar, na terça-feira (27), o congelamento das entrevistas de visto para estudantes estrangeiros. Como consequência, mais de 300 alunos se reuniram em um protesto no campus da prestigiada instituição.
Agravando ainda mais o ambiente já tenso, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, afirmou na noite desta quarta-feira (28) que a istração Trump trabalharia para revogar "agressivamente" os vistos de estudantes chineses. Segundo ele, o alvo seriam universitários com supostos vínculos com o Partido Comunista Chinês ou acadêmicos de áreas consideradas "críticas", como ciência, tecnologia e engenharia.
O governo chinês condenou nesta quinta-feira a decisão do governo Trump de congelar os vistos a estudantes estrangeiros, classificando a medida de "irracional". Para o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, a justificativa dos Estados Unidos de proteger os direitos nacional não a de um "pretexto ideológico".
Mais de 277 mil chineses estavam matriculados em universidades americanas para o ano letivo de 2023-2024. Eles são superados apenas pelos estudantes indianos, segundo um relatório divulgado pelo Departamento de Estado americano, e representam uma fonte importante de recursos ao sistema de ensino superior do país.
Universidade aciona Justiça para preservar autonomia
Em resposta à escalada de restrições, a Harvard entrou com uma ação judicial contra o governo federal, defendendo seu direito à autonomia na issão de estudantes estrangeiros. A universidade alega que as novas diretrizes representam uma interferência indevida em sua missão educacional e ameaçam a diversidade que marca sua comunidade acadêmica.
A primeira análise do caso acontecerá nesta quinta-feira, conduzida pela juíza distrital Allison Burroughs, em Boston, em um tribunal localizado a poucos metros do local onde ocorre a formatura. A decisão tomada no tribunal poderá ter impacto direto sobre o futuro dos estudantes estrangeiros que planejam retornar de seus países de origem para o próximo semestre letivo.
A diretora de serviços de imigração de Harvard, Maureen Martin, afirmou em um documento apresentado à Justiça que a nova política provocou "medo profundo, preocupação e confusão" entre os universitários. Alguns estudantes consideram a possibilidade de se transferir para universidades em outros países, enquanto outros relatam medo de comparecer à própria cerimônia de formatura.
Formaturas viram espaço de protesto
No ano ado, a cerimônia de formatura da Harvard já havia sido marcada por protestos: centenas de alunos deixaram o evento após a universidade negar o diploma a participantes de um acampamento pró-Palestina. Neste ano, a expectativa é de que novas manifestações voltem a ocorrer, desta vez com foco na tentativa de interferência do governo Trump no funcionamento da universidade.
Com 27% de seus alunos vindos do exterior, Harvard tornou-se um símbolo da resistência contra a tentativa do governo federal de alinhar as universidades às suas diretrizes ideológicas. Como medida preventiva, Harvard cancelou todas as celebrações de afinidade — eventos de formatura voltados a grupos como estudantes negros, latinos, asiáticos e LGBTQIA+ — após uma diretriz do governo Trump que proíbe o uso de verbas públicas em cerimônias que promovem "segregação racial", segundo a Casa Branca.
"A Harvard não fornecerá mais financiamento, equipe ou espaços para celebrações de afinidade", informou a universidade em seu site oficial. Alguns desses grupos, no entanto, continuam realizando eventos com financiamento privado.