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Apesar de ruído com IOF, dólar recua com ambiente externo favorável

São Paulo, 29

29/05/2025 17h58

Apesar do aumento dos ruídos políticos domésticos, com dúvidas crescentes em torno da manutenção das alterações no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), o dólar apresentou queda firme no mercado local nesta quinta-feira, acompanhando a onda de enfraquecimento da moeda americana tanto em relação a divisas fortes quanto emergentes.

Os negócios foram guiados pela reação à decisão de ontem à noite do Tribunal de Comércio dos EUA de suspender a maior parte das tarifas comerciais impostas por Donald Trump. A percepção de que instituições americanas reagem a possíveis excessos presidenciais é vista como positiva, embora não dissipem as incertezas trazidas pela nova istração.

Além do ambiente externo favorável ao real, operadores afirmam que pode ter ocorrido entrada de capital externo para renda fixa. O Tesouro vendeu hoje a oferta integral de 3 milhões de NTN-F, papel público que costuma atrair investidores estrangeiros. O volume financeiro somou R$ 2,616 bilhões.

Afora uma alta pequena e pontual no início dos negócios, o dólar à vista operou em baixa no restante do pregão. Com mínima a R$ 5,6431, a moeda fechou em queda de 0,50%, a R$ 5,6670. A divisa sobe 0,35% na semana, mas tem perdas de 0,17% em maio. A desvalorização acumulada no ano é de 8,30%.

O economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, afirma que o cenário externo tem "dominado a precificação" da taxa de câmbio, embora possa haver episódios esporádicos de maior influência do quadro interno, como o observado com na questão do IOF.

"O dólar está apanhando de todas as moedas. Continuamos a ver o movimento de realocação de portfólio, com investidores reavaliando os riscos de investimentos nos Estados Unidos" afirma Lima. "A decisão do tribunal sobre as tarifas de Trump é positiva ao mostrar que as instituições estão reagindo e que há limitações legais, mas ao mesmo tempo aumenta a insegurança porque não é definitiva".

Na disputa jurídica, a corte de Apelações para o Circuito Federal dos EUA suspendeu, no fim da tarde de hoje, temporariamente decisão judicial anunciada ontem que havia anulado ordens executivas de Trump sobre tarifas. A medida cautelar vale "até nova ordem", enquanto a própria Corte avalia o pedido formal do governo para suspender os efeitos da decisão de primeira instância.

Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY voltou a cair abaixo da linha dos 100,000 pontos, com mínima aos 99,217 pontos. No fim da tarde, rondava pouco acima dos 99,300 pontos. A segunda leitura do PIB dos EUA no primeiro trimestre mostrou contração anualizada de 0,2%, menor que a esperada e que o resultado da primeira leitura (-0,3%). Já os pedidos semanais de auxílio-desemprego vieram acima do esperado.

Por aqui, a pauta dominante foi a novela do IOF, que está sob ataque do setor produtivo e do Congresso. Ontem à noite, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que não há alternativa, "no momento", para o aumento do imposto.

No início da tarde, o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), afirmou que "é prudente" dar dez dias para que o governo apresente uma alternativa ao IOF e defendeu que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva entre no debate sobre o tema.

Mota destacou que, se a proposta não mudar, o Congresso pode sustar a medida com um projeto legislativo, mas ponderou que busca "construir uma solução" com o governo. "O Poder Legislativo não quer colocar fogo no País", afirmou.

Fontes ouvidas pelo Broadcast afirmam que não haverá mudança do decreto neste momento, mas que está no radar da equipe econômica a possibilidade de manter o aumento da alíquota neste ano e aguardar mais um tempo para que novos mecanismos pudessem ser aplicados como uma alternativa para 2026.

Lima, da Western Asset, observa que o aumento do IOF é ruim e sinaliza que o governo não quer cortar gastos públicos e busca alcançar as metas fiscais por aumento de carga tributária. "O Congresso reagiu de forma um pouco mais forte, mas a solução para substituir o IOF seria inflar outros impostos. E já em um ambiente de arrecadação cada vez maior", afirma o economista.

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