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Eleições registram pouca afluência na Venezuela após boicote opositor

Uma pessoa vota em uma seção eleitoral durante as eleições regionais em El Dorado, estado de Bolívar, Venezuela - Pedro MATTEY / AFP
Uma pessoa vota em uma seção eleitoral durante as eleições regionais em El Dorado, estado de Bolívar, Venezuela Imagem: Pedro MATTEY / AFP

25/05/2025 16h54

O baixo comparecimento predominou neste domingo (25) nas eleições de governadores e parlamentares da Venezuela, depois que a maioria opositora convocou uma abstenção em protesto pela reeleição questionada do presidente Nicolás Maduro.

Não obstante, sem importar o índice de participação, o chavismo governante vislumbra um triunfo esmagador que solidificará ainda mais o poder de Maduro.

As eleições acontecem dias depois de uma onda de prisões de aproximadamente 70 dirigentes opositores acusados de integrarem uma "rede terrorista" para sabotar o pleito.

"Não vou votar porque devemos sair já deste regime", disse à AFP Mirian Cristina Pérez, uma educadora aposentada de 73 anos em San Cristóbal, no estado de Táchira, fronteiriço com a Colômbia. "Isso é para que vocês vejam que estamos em uma democracia quando todos sabem que não é esse o caso."

"Foi rápido e fluido, mas realmente não havia gente", assinalou, por sua vez, Yasmín Urbina, funcionária pública de 41 anos.

O centro de pesquisa Delphos projetou que a jornada se encerrará com uma participação de 16% dos 21 milhões de eleitores aptos para eleger os 285 deputados da Assembleia Nacional e 24 governadores, incluindo, pela primeira vez, a representação de um estado recém-criado para Essequibo, um território disputado com a Guiana.

Dissidência na oposição

A líder opositora María Corina Machado pediu a seus partidários que não votassem. "Quando é SIM, é SIM. Quando é NÃO, é NÃO", escreveu no X.

Uma pequena cisão da oposição não aderiu à convocação de Corina Machado e participou do pleito neste domingo. É liderada pelo duas vezes candidato presidencial Henrique Capriles, que busca uma vaga no Parlamento.

"O que é melhor, ter voz e lutar dentro do Parlamento, ou, como fizemos em outras ocasiões, abandonar o processo eleitoral e deixar o Parlamento em sua totalidade para o governo?", disse Capriles depois de votar.

O chavismo possui 253 das 277 cadeiras da Assembleia Nacional, precisamente depois que a oposição boicotou as últimas eleições legislativas em 2020.

Também controla 19 do total de 23 governos estaduais.

'Nenhum incidente'

As seções eleitorais em Caracas e outras cidades do interior como San Cristóbal, Maracaibo e Barinas estavam desertas na metade do dia, constataram jornalistas da AFP.

Essa imagem difere do pleito presidencial bastante concorrido de 28 de julho do ano ado, no qual Maduro foi proclamado vencedor em meio a denúncias de fraude.

Os fortes protestos que vieram na sequência dessas eleições terminaram com um saldo de 28 mortes e mais de 2.400 prisões.

O governo mobilizou mais de 400 mil efetivos para a segurança da votação, restringiu as agens fronteiriças e suspendeu a conexão aérea com a Colômbia após denunciar que ela foi usada por "mercenários" para viajar ao país e atentar contra o processo.

Entre os detidos pelo suposto complô está o dirigente opositor Juan Pablo Guanipa, um aliado próximo de Corina Machado.

"Até agora não houve nenhum incidente", indicou o ministro da Defesa, Vladimir Padrino.

'Ato soberano'

No Essequibo será escolhido um governador e oito parlamentares, que terão em princípio um mandato simbólico, pois a Guiana istra essa rica área de 160.000 km² objeto de disputa oficial.

Estão aptos a votar pouco mais de 21 mil eleitores em seções situadas no estado de Bolívar, no sudeste da Venezuela, fora do território em disputa.

"Vamos ter estrutura, vamos ter um governo [...] e isso vai trazer bem-estar", disse à AFP o candidato chavista a governador, Neil Villamizar, antes de votar na localidade de El Dorado.

A Guiana denunciou essa eleição como uma "ameaça", enquanto a Corte Internacional de Justiça (CIJ), que analisa um caso relacionado com a disputa territorial, pediu à Venezuela que se abstivesse de celebrar esse pleito.

"Ninguém [...] pode nos dizer para não fazermos eleições, é um ato soberano", refutou Padrino. "Não estamos apontando nossos fuzis para a Guiana Essequiba", o nome que a Venezuela dá para o território.

A Guiana reivindicou perante a CIJ que ratifique as fronteiras estabelecidas em um laudo de 1899, mas a Venezuela recorre ao Acordo de Genebra firmado em 1966, antes da independência da Guiana do Reino Unido, que anulava esse laudo e estabelecia as bases para uma solução negociada.

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© Agence -Presse

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