Juros: aumento do IOF esvazia reação à contenção de R$ 31 bi e taxas sobem
Os juros futuros fecharam a quinta-feira em alta, definida na reta final da sessão, após operarem durante boa parte do dia em baixa. O evento mais esperado do dia, o relatório bimestral de avaliação de receitas e despesas, surpreendeu ao trazer um total de R$ 31,3 bilhões de contenção fiscal, muito acima da esperada, mas a reação positiva acabou sendo logo limitada pela informação de que o governo pretende elevar a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Mais cedo, a curva de juros já fechava com a melhora do ambiente externo e o leilão de prefixados do Tesouro.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 subiu de 14,75% para 14,77%, e a do DI para janeiro de 2027, de 14,05% para 14,12%. O DI para janeiro de 2029 encerrou com taxa de 13,72%, de 13,66% no ajuste anterior.
As taxas começaram o dia pressionadas para cima, acompanhando a abertura da curva da americana, que, por sua vez, refletia as preocupações com o quadro fiscal nos EUA após a aprovação do projeto orçamentário pela Câmara dos Representantes.
Ainda pela manhã, as taxas zeraram a alta e aram a cair, mantendo o alinhamento à dinâmica dos Treasuries, que inverteram o sinal após comentários dovish do diretor do Federal Reserve Christopher Waller. Ao mesmo tempo, o Tesouro divulgava o edital com as condições para o leilão de prefixados, que, como observam os analistas da XP, foi "maior que o da semana ada, mas menor que os quatro anteriores e que a média do ano."
Mas a grande expectativa do mercado era pelo relatório bimestral, à tarde, que agradou aos investidores o trazer um valor de contenção duas vezes maior que o esperado. Serão R$ 20,7 bilhões em contingenciamentos e R$ 10,6 bilhões em bloqueios, num total de R$ 31,3 bilhões. A avaliação dos economistas, de forma geral, é de que o valor é suficiente para garantir o cumprimento da meta de superávit primário, ao menos na banda inferior, que prevê déficit de até 0,25% do PIB.
"Foi uma excelente notícia e isso fez com que o câmbio voltasse bem, apreciasse mais, os juros caíssem mais", afirma a economista-chefe da Armor Capital, Andréa Damico, lembrando que o mercado trabalhava com um número de contenção entre R$ 10 bilhões e R$ 15 bilhões.
Mal o mercado comemorava o relatório, com taxas longas chegando a ceder até 20 pontos-base, o ministro dos Transportes, Renan Filho, informou que o presidente Lula iria um aumento do IOF, de forma a garantir a receita para "garantir o cumprimento das regras do arcabouço fiscal". Com isso, as taxas reduziram o ritmo de queda, com algumas até a migrando pontualmente para a estabilidade.
"A confirmação do governo de que vai ter realmente esse aumento de IOF fez com que todo viés mais benigno no mercado fosse apagado, tanto em termos de apreciação do câmbio, como também fechamento de juros e de Bolsa", diz Damico.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que detalharia a medida em entrevista coletiva às 17h, adiantando apenas que a elevação não incidirá sobre dividendos vindos do exterior. "Não é nada de outro mundo", disse.
O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, considera negativa a sinalização sobre o IOF ao remeter ao governo Dilma, quando foi colocado o imposto sobre o mercado de câmbio, e vê com preocupação o que chamou de "esquiva" do ministro Haddad, após as declarações de Renan Filho. "Mais do que um ajuste fiscal via receitas, a forma como ele colocou a questão sugere um tom de briga dentro do governo. É ruim do ponto de vista econômico e político", avalia.
Na gestão da dívida, o Tesouro encontrou boa demanda por papéis prefixados no leilão, especialmente nos vencimentos longos, que são buscado especialmente por investidores estrangeiros. O lote de 800 mil NTN-F foi vendido integralmente, enquanto nas LTN o Tesouro vendeu 11,35 milhões do lote de 12 milhões.