Irã considera que persistem 'diferenças fundamentais' com EUA sobre tema nuclear
O chanceler do Irã, Abbas Araghchi, afirmou, nesta quinta-feira (22), que segue havendo "diferenças fundamentais" com os Estados Unidos, na véspera de uma nova rodada de negociações sobre o programa nuclear iraniano, em Roma.
Teerã e Washington, inimigos desde a revolução Islâmica de 1979, mantiveram conversas diretas sobre o tema em 12 de abril.
Os dois países demonstraram publicamente seu desacordo sobre a questão do enriquecimento de urânio, uma atividade que, segundo o Irã, se insere em um programa civil.
O enviado de Washington para o Oriente Médio, Steve Witkoff, que lidera a delegação americana nas negociações, disse no domingo que os Estados Unidos "não poderiam autorizar nem mesmo um por cento de capacidade de enriquecimento" ao Irã.
A República Islâmica, que defende seu direito a desenvolver a energia nuclear com fins civis, reiterou que poder manter o enriquecimento de urânio é "inegociável".
"Segue havendo diferenças fundamentais entre nós", disse Araghchi à TV estatal, nesta quinta-feira, advertindo que, se os Estados Unidos quiserem impedir o Irã de enriquecer urânio, "não haverá acordo".
"Estamos convencidos da natureza pacífica do nosso programa nuclear e, portanto, não temos nenhum problema em que haja mais inspeções e transparência", acrescentou o chanceler, que chefia a delegação iraniana nos diálogos.
- 'Na direção certa' -
O Irã e os Estados Unidos vão iniciar nesta sexta-feira, na Itália, a quinta rodada de negociações, com a mediação do Sultanato de Omã.
O objetivo é concluir um novo acordo para impedir que Teerã obtenha uma arma nuclear, em troca da suspensão das sanções que paralisam sua economia.
O último pacto, de 2015, tornou-se obsoleto em 2018, durante o primeiro mandato do republicano Donald Trump (2017-2021), quando os Estados Unidos se retiraram unilateralmente do acordo e reimpam as sanções, o que levou o Irã a se desvincular de seus compromissos.
Trump, que voltou à Casa Branca em janeiro, conversou nesta quinta-feira sobre o Irã com o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, cujo país é inimigo da República Islâmica, informou a porta-voz do Executivo americano, Karoline Leavitt.
O republicano considera que as negociações com Teerã, que Netanyahu vê com ceticismo e, inclusive, com hostilidade, "estão na direção certa", acrescentou.
Citando altos funcionários americanos que falaram sob condição de anonimato, o canal de notícias CNN reportou, na terça-feira, que Israel prepara ataques contra instalações nucleares iranianas.
Araghchi advertiu que o Irã vai considerar os Estados Unidos responsáveis por qualquer ataque israelense contra suas instalações.
"No caso de um ataque contra as instalações nucleares da República Islâmica do Irã por parte do regime sionista [Israel], o governo americano [...] assumirá uma responsabilidade legal", escreveu o chanceler em uma carta destinada ao secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, tornada pública nesta quinta-feira.
Segundo a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), atualmente o Irã enriquece urânio a 60%, muito acima do limite de 3,67% estabelecido em 2015, mas abaixo dos 90% necessários para uso militar.
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