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Universitários protestam contra novas tarifas de internet móvel em Cuba

04/06/2025 17h54

A insatisfação estudantil cresce em Cuba diante das novas tarifas de internet móvel impostas pela empresa estatal de telecomunicações, e alguns setores universitários convocaram uma paralisação das atividades nesta quarta-feira (4) como forma de protesto. 

As novas tarifas implicam um aumento significativo para os clientes que excedem um pacote básico, drasticamente limitado, e uma dolarização parcial do serviço. Sua entrada em vigor, em 30 de maio, desencadeou uma onda de indignação entre os cubanos, especialmente entre os estudantes.

Esta decisão da "ETECSA [a empresa de telecomunicações] não é nem um pouco conveniente para nenhum de nós, estudantes, nem para ninguém da população", declarou à AFP Rafael Gómez, de 18 anos, em frente à majestosa escadaria da Universidade de Havana (UH), aonde chegou para realizar trâmites de matrícula.

"Estávamos acostumados a um certo sistema" que permitia recarregar o telefone com saldo pré-pago quantas vezes se quisesse e "agora estamos limitados [a um pacote básico mensal] de 360 pesos [aproximadamente R$ 84] e isso é complicado", acrescentou. "Com 6 GB não se resolve nada e, se quiser comprar mais, são mais de 3.000 pesos [pouco mais de R$ 700] e um salário normal em Cuba não dá conta", detalhou Gómez. Na ilha, o salário médio é de 5.700 pesos (R$ 1.337, na cotação atual).

- 'Pedíamos mais' -

Desde que as medidas começaram a vigorar, sem aviso prévio e que a ETECSA justificou depois pela urgência de obter divisas para investimentos e a manutenção das operações, as organizações estudantis expressaram sua insatisfação.

Diante do clamor, o presidente Miguel Díaz-Canel escreveu no domingo no X que estava "a par das opiniões, críticas e insatisfações" e adiantou que estão sendo estudadas "opções para os setores mais vulneráveis", entre eles os estudantes.

Até agora, foram realizadas múltiplas reuniões entre representantes estudantis e dirigentes da ETECSA, cujos diretores também participaram de programas na televisão local para explicar as razões das novas tarifas.

Na segunda-feira, a empresa anunciou que os universitários teriam finalmente direito a duas recargas mensais em moeda nacional, em comparação com uma para o restante da população, mas essa proposta não acalmou o descontentamento.

"Os estudantes universitários demonstraram que reconheciam o avanço das negociações, do diálogo [...], na busca por soluções, mas pedíamos mais", disse à AFP José Almeida, presidente da Federação Estudantil Universitária (FEU, organização oficial) na UH.

- 'Protesto pacífico' -

Filiais da FEU em algumas faculdades da UH convocaram uma greve para exigir a "revogação" das novas medidas.

"Convocamos, a partir de quarta-feira, 4 de junho, os estudantes a não comparecer às atividades acadêmicas como forma de protesto", afirmou a FEU da Faculdade de Matemática e Computação em um comunicado divulgado na noite de terça-feira em seu canal no Telegram, ao qual a AFP teve o.

Além disso, instou o reitorado da casa de altos estudos de Havana "a reconhecer a legitimidade deste protesto" para "evitar a deturpação em nossas intenções revolucionárias e honestas".

Também a FEU da Faculdade de Filosofia, História e Sociologia qualificou como "legítima" a convocação, e os estudantes da Faculdade de Artes e Letras disseram que se juntariam à medida.

Em um comunicado divulgado nesta quarta-feira no Facebook, o corpo docente do Departamento de Sociologia da UH expressou sua "inconformidade com as novas medidas implementadas" e ressaltou que os estudantes "têm reivindicações justas".

A AFP não pôde confirmar de forma independente se a greve estava sendo cumprida. Segundo um universitário que pediu anonimato, "muito poucos estudantes" haviam comparecido às aulas na Faculdade de Artes e Letras.

Por outro lado, a direção da Universidade de Havana questionou a paralisação das atividades.

"Nada, nem ninguém interromperá nossos processos acadêmicos com convocações completamente afastadas do espírito que animou os intercâmbios com as organizações estudantis e juvenis", advertiu no Facebook.

Almeida mostrou sua discordância com a greve universitária, mas disse que a FEU respeita essa "posição" e que "nunca haverá um confronto entre estudantes".

Brian Gámez, que está no primeiro ano de História e Marxismo Leninismo, defendeu o "protesto pacífico", mas alertou contra aqueles que possam degenerar em um ato de "vandalismo".

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© Agence -Presse

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