Governo da Holanda desmorona após saída de ultradireitista Wilders
Governo da Holanda desmorona após saída de ultradireitista Wilders - Alegando insatisfação com política migratória, Gert Wilders deixa coalizão de governo e leva primeiro-ministro Dick Schoof à renúncia após menos de um ano no cargo. País terá eleições antecipadas.Horas após o desembarque de um partido de ultradireita provocar o colapso da coalizão de governo na Holanda, o primeiro-ministro do país, Dick Schoof, anunciou nesta terça-feira (03/06) que pretende renunciar ao cargo e convocar novas eleições.
O colapso do governo ocorre apenas 11 meses após a formação de um novo gabinete.
Mais cedo, o político anti-islã Geert Wilders – também conhecido como "Trump holandês" – havia atribuído a saída de seu Partido pela Liberdade (PVV) à dificuldade de impor medidas mais duras para combater a imigração.
O PVV, que tem 37 dos 150 assentos no parlamento, era o maior partido da coalizão e governava com mais três partidos de direita desde meados de 2024. São eles o liberal VVD, o novo partido de centro-direita NSC e o partido dos agricultores BBB. Juntos, os três somam 51 assentos.
Os ministros do PVV deixarão o governo, enquanto os demais – incluindo o premiê Schoof – continuarão no cargo em caráter interino até a constituição de um novo gabinete.
Novas eleições não devem ser realizadas antes de outubro, e o cenário partidário fragmentado deve fazer com que as negociações para a formação de um novo governo se arrastem por mais alguns meses. Até lá, o país deve ficar em estado de paralisia política.
A situação na Holanda já era de relativa instabilidade desde a eleição em novembro de 2023, vencida por Wilders. O novo governo só foi formado em julho de 2024, após penosas rodadas de negociações.
O que Wilders queria
Wilders exigia que um plano com dez propostas para restringir a entrada de requerentes de refúgio na Holanda fosse incorporado ao acordo que formou o governo em julho do ano ado.
Entre as medidas estão o fechamento das fronteiras para solicitantes de refúgio e de centros de recepção, o fortalecimento dos controles fronteiriços, o fim da reunificação familiar para refugiados reconhecidos e a deportação de cidadãos com dupla nacionalidade condenados por crimes.
Wilders, conhecido como o "Trump holandês", tornou público esse anexo na segunda-feira da semana ada e ou a ameaçar deixar a coalizão se suas exigências não fossem atendidas, dizendo-se frustrado com o que considerava ser o ritmo lento da coalizão para implementar suas propostas.
A atitude foi classificada por Schoof como "desnecessária e irresponsável". Já Wilders disse que espera ser eleito o próximo primeiro-ministro.
Pressão sobre parceiros de coalizão
No domingo ado, Wilders aumentou ainda mais a pressão sobre seus parceiros ao afirmar que deixaria a coalizão se os outros três partidos não apoiassem a maioria de suas propostas.
Por causa dessa ameaça, os líderes dos quatro partidos se reuniram nesta segunda-feira à tarde para exigir explicações. A reunião durou pouco menos de uma hora, e os três parceiros minoritários garantiram que não iriam se opor aos planos, mas que a responsabilidade de implementá-los ficaria com a ministra da Migração, Marjolein Faber, do partido de Wilders.
A proposta não agradou Wilders, que disse ter a percepção de que seus parceiros não estavam dispostos a apoiar a implementação imediata das medidas. Uma nova reunião ocorreu na manhã desta terça-feira, mas, 15 minutos depois, Wilders escreveu numa rede social que o PVV estava deixando a coalizão.
Parlamento fragmentado
O partido de Wilders venceu a eleição de novembro de 2023, tornando-se a maior bancada do parlamento, com uma campanha eleitoral centrada em promessas de restringir a imigração, mas não tinha maioria para governar sozinho.
Após vários meses de negociações, em julho de 2024, Wilders chegou a um acordo com três partidos de direita para formar um governo sem a participação dele – o acordo só foi possível porque Wilders renunciou a qualquer cargo. Porém, o governo deveria implementar a política migratória "mais rigorosa" que o país já viu.
O governo, com cinco ministros do PVV, era liderado por Dick Schoof, um funcionário público de carreira sem filiação partidária e ex-chefe da espionagem, e logo entrou em conflito com a União Europeia devido à política migratória.
As pesquisas eleitorais colocam o PVV no mesmo patamar da aliança entre o Partido Verde e o Partido Trabalhista, que hoje é o segundo maior grupo no parlamento. O partido liberal VVD, tradicional na política holandesa, também está bem posicionado nas sondagens, indicando que uma nova eleição seria muito disputada.
as/cn/ra (AFP, Efe, DPA, AP, Reuters)