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Advogado brasileiro diz que foi expulso da Bolívia por defender Morales

do UOL

Do UOL, em São Paulo

03/06/2025 18h49Atualizada em 03/06/2025 20h45

O advogado paraibano Walber Agra afirmou ter sido expulso da Bolívia na noite de segunda-feira após elaborar um parecer jurídico questionando decisões que impediram a reeleição do seu cliente, o ex-presidente Evo Morales.

O que aconteceu

Agra diz ter sido cercado por mais de 15 policiais e informado de sua expulsão do país. Em vídeo divulgado nas redes sociais, o advogado conta que ao desembarcar no aeroporto de Laz Paz, os policiais o abordaram e o obrigaram a um termo que o declarou "persona non grata" - termo, que em latim significa "não é bem-vindo", e está previsto na Convenção de Viena sobre relações diplomáticas - o convidando a se retirar do país. "Eu queria dizer bem claro que, se acontecer alguma coisa, a culpa é do atual governo boliviano", afirmou.

Documento entregue ao advogado Walber Agra informando sua expulsão da Bolívia.  - Reprodução: Redes Sociais - Reprodução: Redes Sociais
Documento entregue ao advogado Walber Agra informando sua expulsão da Bolívia.
Imagem: Reprodução: Redes Sociais

Documento entregue a Agra diz que as declarações feitas pelo advogado são interpretadas como "ingerência política". A medida foi formalizada pela DIGEMIG (Direção Geral de Migração), alegando que as declarações públicas feitas por ele em redes sociais e na imprensa, eram uma forma de intervenção na política boliviana. O advogado compartilhou uma foto do documento.

Advogado apresentou um parecer jurídico que contestava a decisão do T (Tribunal Constitucional Plurinacional) de impossibilitar o ex-presidente de concorrer às eleições presidenciais de 2025. O órgão estabeleceu que o presidente e o vice-presidente só poderiam exercer o cargo por dois mandatos, contínuos ou não, impedindo uma terceira candidatura.

Advogado brasileiro Walber Agra elabora parecer a pedido de Evo Morales sobre reeleição. - Reprodução: Redes Sociais - Reprodução: Redes Sociais
Advogado brasileiro Walber Agra elabora parecer a pedido de Evo Morales sobre reeleição.
Imagem: Reprodução: Redes Sociais

Recurso afirma que a Constituição boliviana não proíbe a reeleição consecutiva e declara a decisão do T como inconstitucional. Segundo o parecer, o decreto se constitui em uma "inconstitucionalidade acachapante, através de uma mutação constitucional, não autorizada, pois substitui o conteúdo literal e intencional do texto originário por interpretação ampliativa não fundada na letra da norma nem na vontade constituinte".

Além de fazer a defesa de Morales, Agra participou de ação que resultou na inelegibilidade do ex-presidente Jair Bolsonaro até 2030. Nascido em Campina Grande (PB), Walber ficou conhecido nacionalmente após a ação do PDT (Partido Democrático Trabalhista) que tornou o Bolsonaro inelegível, por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação durante uma reunião com embaixadores em julho de 2022.

Evo Morales foi presidente da Bolívia durante 13 anos

Morales assumiu o poder em 2006, governando até 2019. Ele foi eleito para quatro mandatos, porém renunciou no fim do terceiro mandato, após ter a quarta vitória questionada na eleição daquele ano. No fim de 2024, o Tribunal Constitucional aprovou uma decisão que o impede de se candidatar, argumentando que nenhum boliviano pode exercer mais de dois mandatos presidenciais.

Evo Morales durante coletiva de imprensa em Buenos Aires, na Argentina, onde buscou refúgio após renunciar à presidência da Bolívia - Agustin Marcarian/Reuters - Agustin Marcarian/Reuters
Evo Morales durante coletiva de imprensa em Buenos Aires, na Argentina, onde buscou refúgio após renunciar à presidência da Bolívia
Imagem: Agustin Marcarian/Reuters

Naquele ano, Morales renunciou à Presidência em meio a uma forte crise política. Ele disse ser vítima de um golpe "cívico-político-policial" e afirmou que tinha renunciado ao cargo para tentar pacificar o país. Ele foi pressionado pela oposição, pelas Forças Armadas e por protestos nas ruas que duraram três semanas questionando a tentativa da quarta reeleição. Depois de deixar a Bolívia, ele buscou asilo na Argentina, onde ficou até 2020.

Bolívia voltou a enfrentar instabilidade política no ano ado. O presidente Luis Arce, sucessor de Evo Morales, foi alvo de uma tentativa de golpe praticada por militares bolivianos, que colocaram tanques e tropas em frente à sede do governo, em La Paz, em 26 de junho de 2024.

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