Topo
Notícias

Drones artesanais e baratos: como Ucrânia fez ataque 'por dentro' na Rússia

01.jun.2025 - Fumaça sobe após o que as autoridades locais chamaram de ataque de drone a uma unidade militar no assentamento de Sredny, na Rússia - Governador da Região de Irkutsk Igor Kobzev via Telegram/Divulgação via REUTERS
01.jun.2025 - Fumaça sobe após o que as autoridades locais chamaram de ataque de drone a uma unidade militar no assentamento de Sredny, na Rússia Imagem: Governador da Região de Irkutsk Igor Kobzev via Telegram/Divulgação via REUTERS
do UOL

Colaboração para o UOL

02/06/2025 13h05Atualizada em 02/06/2025 13h11

Um ataque ucraniano destruiu 41 aviões militares russos além de uma ponte na Sibéria ontem, na véspera de uma nova rodada de negociações por um cessar-fogo os dois países, segundo informou o Serviço de Segurança da Ucrânia. Esta foi a primeira vez que alvos foram atingidos a mais de 4.000 km da fronteira.

O presidente Volodymyr Zelensky declarou que esta operação, batizada de "Teia de Aranha", é a de mais longo alcance já realizada pela Ucrânia e classificou o ataque como "brilhante". Igor Kobzev, governador da região russa de Irkutsk, confirmou que "esse é o primeiro ataque desse tipo na Sibéria".

Como a Ucrânia conseguiu surpreender a Rússia?

117 drones foram utilizados nos ataques, segundo Zelensky. Eles foram operados remotamente por um número correspondente de operadores e destruíram 34% das aeronaves porta-mísseis de cruzeiros em bases aéreas russas em três fusos horários, segundo o presidente ucraniano, que supervisionou a operação pessoalmente.

O Ministério da Defesa da Rússia reconheceu ataques ucranianos em bases nas regiões de Murmansk, Irkutsk, Ivanovo, Ryazan e Amur, mas disse ter interpelado ataques em três bases. O jornal americano The New York Times confirmou imagens de vídeo que mostram ataques bem-sucedidos na Base Aérea de Olenya, em Murmansk, e na Base Aérea de Belaya, em Irkutsk, com danos visíveis a pelo menos cinco aeronaves estratégicas.

Explosão em Olenegorsk, em Murmansk, na Rússia, após ataque ucraniano em 1º de junho - Social Media/via REUTERS - Social Media/via REUTERS
Explosão em Olenegorsk, em Murmansk, na Rússia, após ataque ucraniano em 1º de junho
Imagem: Social Media/via REUTERS

A base de Irkutsk abriga o bombardeiro supersônico Tupolev Tu-22M, considerado estratégico por ter longo alcance. Este é o tipo de aeronave que tem sido usada pelos russos para lançar mísseis contra alvos ucranianos. Imagens ligadas ao ataque mostram um ataque de um drone contra diversas grandes aeronaves, uma delas o Tu-95, outro bombardeiro em atividade pela antiga União Soviética desde a Guerra Fria.

Ucranianos conseguiram transportar os drones camuflados em caminhões que entraram em território russo e realizaram o ataque "por dentro". Ainda de acordo com o jornal americano, vídeos mostram dois drones sendo lançados da traseira de um dos veículos a cerca de 6,4 km da base de Belaya, que aparecem em chamas em imagens posteriores. O mesmo foi registrado perto da base de Olenya, mas ainda não foi verificada a sua ligação com o ataque até o momento.

Os drones estavam escondidos em telhados de galpões de madeira que foram carregados nos caminhões, segundo a Reuters. Os telhados foram removidos por um mecanismo ativado remotamente, permitindo o voo dos drones e o início dos ataques, esclareceu um oficial ucraniano ouvido pela agência.

Que drones são estes?

Os ucranianos usaram drones FPV (First Person View, ou Visão em Primeira Pessoa). Na prática, isto quer dizer que o operador consegue ver tudo aquilo que o drone "vê" através de uma câmera presa à sua estrutura que transmite dados e imagens em tempo real. O soldado pode acompanhar a transmissão ao vivo por óculos especializados, smartphones ou outras telas e, assim, manobrá-lo remotamente. Ele pode ser usado ainda para filmagens e outras tarefas não-militares.

Estes drones são rápidos, altamente manobráveis e relativamente baratos, apontou o jornal americano The Washington Post. O equipamento vem sendo muito usado pelos ucranianos porque supre a falta de armas e arsenal de artilharia de precisão ocidentais. Com habilidade para carregar explosivos pesados, ele pode destruir até tanques —basta o piloto acertar pontos específicos como motores.

Um drone FPV das Forças Armadas da Ucrânia sendo preparado em maio - Alina Smutko/REUTERS - Alina Smutko/REUTERS
Um drone FPV das Forças Armadas da Ucrânia sendo preparado em maio
Imagem: Alina Smutko/REUTERS

Este tipo de equipamento é a arma perfeita em uma guerra assimétrica, acreditam especialistas. Feito artesanalmente com custo de algumas centenas de dólares, ele tem o poder de destruir armas e equipamentos de milhões de dólares do Exército russo. O Post estima que o custo de fabricação deste drone seja de US$ 400 ou R$ 2.273 —e operá-lo é tão fácil que poderia ser "feito por um adolescente".

Americanos haviam fornecidos drones mais caros e sofisticados aos ucranianos no início da guerra, mas eles se adaptaram às necessidades da guerra. Seus drones são leves e simples, custando menos e podendo ser produzidos em larga escala. Parte de seu invólucro que serve de gatilho para a explosão é impresso por uma impressora 3D.

Um drone FPV sendo operado por soldado ucraniano em maio - UKRAINIAN ARMED FORCES/via REUTERS - UKRAINIAN ARMED FORCES/via REUTERS
Um drone FPV sendo operado por soldado ucraniano em maio
Imagem: UKRAINIAN ARMED FORCES/via REUTERS

Ogivas pesam entre 700 gramas e três quilos, transportado por quatro motores e hélices que poderiam chegar a 150 km/h. Suas câmeras não têm grande qualidade de vídeo, mas "apenas o necessário". A resolução é de 720p a 1080p, com visão noturna, segundo a Reuters.

Dependendo de suas baterias, já que há versões que carregam duas, o alcance do drone seria de cinco a 20 km. Daí a necessidade de infiltração em território russo. Todo o drone, caso a ogiva não seja das maiores, pode não ultraar em peso entre um quilo e meio a três quilos, graças à sua leve estrutura de fibra de carbono.

Danos são questionados por russos

O Serviço de Segurança da Ucrânia estima que o dano causado aos russos pela operação coordenada seja de US$ 7 bilhões (R$ 39,8 bilhões). Em uma reunião da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) com países bálticos e nórdicos, o presidente Zelensky afirmou que a "Teia de Aranha" demonstra que a Rússia também pode sofrer perdas sérias e acredita que isso "os empurrará na direção da diplomacia". Analistas, contudo, rejeitam a tese e creem que mesmo os danos não modificarão o raciocínio político de Putin — que também fez ontem seu maior ataque com drones contra a Ucrânia desde 2022.

Drone ucraniano em voo - Social Media/via REUTERS - Social Media/via REUTERS
Drone ucraniano em voo
Imagem: Social Media/via REUTERS

Blogueiros militares russos menosprezaram os danos. O blog Rybar, do influente Mikhail Zvinchuk, afirmou que apenas 13 aeronaves haviam sido atingidas. Já o blog Fighterbomber, que se acredita ser mantido pelo Capitão Ilya Tumanov, do Exército russo, afirmou que apenas algumas aeronaves estratégicas teriam sido danificadas, mas mesmo uma perda dessas seria "imensa para um país que não as fabrica", segundo o Times.

Notícias