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A controversa fundação escolhida por Israel para atuar em Gaza

28/05/2025 16h46

A controversa fundação escolhida por Israel para atuar em Gaza - Escolhido por Netanyahu para distribuir comida no enclave palestino, grupo com histórico opaco é visto com desconfiança por outras organizações humanitárias, que suspeitam de "disfarce" para forçar deslocamento em massa.Tropas israelenses dispararam nesta terça-feira (27/05) tiros de advertência contra milhares de palestinos famintos que haviam se dirigido a um centro de distribuição de alimentos na Faixa de Gaza. O episódio escancarou não só a crescente situação de desespero no enclave acossado pela guerra, mas também falhas na atuação de uma misteriosa organização novata apoiada pelos EUA e Israel para liderar iniciativas de ajuda humanitária em Gaza, contornando ONGs e grupos com mais experiência na região.

Imagens distribuídas pela rede BBC e pelo jornal The New York Times mostraram milhares de pessoas se amontoando para tentar conseguir caixas de alimentos num centro de distribuição em Rafah, no sul de Gaza. O centro havia sido instalado pela chamada Gaza Humanitarian Foundation (GHF), um grupo criado em fevereiro e que até onde se sabe não tem histórico de atuação relevante em lidar com crises humanitárias, mas que mesmo assim recebeu sinal verde dos EUA e de Israel para controlar a distribuição de ajuda em Gaza.

Até mesmo as origens do grupo são opacas. Inicialmente, se falou que o grupo tinha registro na Suíça, mas jornalistas não encontraram nada no endereço indicado. Mais tarde, o The New York Times apontou que também há um registro no estado americano de Delaware.

Além disso, segundo informações do The New York Times e do jornal israelense Haaretz, a GHF mantém laços estreitos com duas empresas dos EUA que ficaram responsáveis por garantir a segurança nos centros de distribuição em Gaza.

Essas empresas são a Safe Reach Solutions (SRS) e UG Solutions. A primeira delas é ligada a um ex-agente da CIA. De acordo com o The New York Times, não está claro de onde vem o dinheiro da GHF, tanto para pagar as firmas de segurança quanto para distribuir os alimentos.

Organização de fachada israelense?

Adicionando ainda mais confusão, o diretor da GHF, Jake Wood, ex-fuzileiro naval americano, anunciou publicamente no domingo sua renúncia como diretor da organização, afirmando que não podia cumprir sua missão "respeitando estritamente os princípios de humanidade, neutralidade, imparcialidade e independência".

Wood era o rosto da GHF desde que ela se tornou uma peça central no plano apoiado por Israel e Estados Unidos para distribuir ajuda em Gaza. Anteriormente, Wood comandou esforços de socorro em desastres realizados pela ONG Team Rubicon, da qual foi cofundador em 2010.

Apesar de ter perdido seu diretor, a fundação informou ter iniciado suas operações para entrega de alimentos em Gaza na segunda-feira (26/05). Outros grupos humanitários com experiência, além da própria rede de agências da ONU, continuam impedidos de entrar na região.

Na segunda-feira, o líder da oposição israelense, Yair Lapid, acusou o governo de Benjamin Netanyahude estar por trás da GHF e da empresa de segurança SRS. Segundo Lapid, tudo indica que se tratam de "empresas de fachada" e que na realidade Israel está secretamente financiando os esforços – uma afirmação rapidamente negada pelo gabinete do primeiro-ministro.

"Nosso trabalho é fazer perguntas difíceis ao governo e, com essa pergunta, eu subo ao pódio hoje. O Estado de Israel está por trás de duas empresas de fachada estabelecidas na Suíça e nos Estados Unidos, a GHF e a SRS, para organizar e financiar a ajuda humanitária em Gaza"> Por Alexandra Ulmer