Bienal da Dança de Lyon traz oito espetáculos brasileiros em temporada cultural França-Brasil 2025
A 21ª Bienal da Dança de Lyon, que acontece de 6 a 28 de setembro, é um dos momentos mais marcantes do calendário cultural de 2025 na França, e continua por toda a região sa de Auvergne-Rhône-Alpes (leste) até o dia 17 de outubro. Durante mais de um mês, a dança toma conta das ruas, palcos e espaços públicos de Lyon e arredores, com uma programação intensa, diversa e engajada. Este ano, a bienal criou um programa especial para homenagear o Brasil, convidado de honra: o Brasil agora!
A 21ª Bienal da Dança de Lyon, que acontece de 6 a 28 de setembro, é um dos momentos mais marcantes do calendário cultural de 2025 na França, e continua por toda a região sa de Auvergne-Rhône-Alpes (leste) até o dia 17 de outubro. Durante mais de um mês, a dança toma conta das ruas, palcos e espaços públicos de Lyon e arredores, com uma programação intensa, diversa e engajada. Este ano, a bienal criou um programa especial para homenagear o Brasil, convidado de honra: o Brasil agora!
Com 40 espetáculos, sendo 24 estreias na França, esta edição da Bienal de Dança de Lyon se afirma como um lugar de experimentação e compromisso com o mundo contemporâneo. Grandes nomes da dança internacional se encontram com vozes emergentes da vanguarda, refletindo a pluralidade da criação coreográfica atual.
"Há um grande foco chamado Brasil Agora, com oito projetos de artistas brasileiros, realizados no âmbito da temporada cruzada Brasil-França. Essa é uma parte muito importante da nossa programação", explica o diretor do festival, o português Tiago Guedes. "Trata-se de uma espécie de atualização sobre o que é a dança e a coreografia brasileira hoje, com artistas de diversas trajetórias, espetáculos de diferentes formatos e representantes de várias gerações", sublinha.
"Por exemplo, temos o espetáculo de abertura com Lia Rodrigues [a nova criação, intitulada Borda], uma das grandes coreógrafas brasileiras. Mas também teremos artistas muito jovens, que estão começando agora e vão apresentar seus trabalhos", exemplifica o diretor.
O evento acolhe oito espetáculos e performances de artistas brasileiros que vêm agitar a cena sa da dança contemporânea em 2025, entre eles: Alejandro Ahmed, Clarice Lima, Davi Pontes, Wallace Ferreira, Diego Dantas, Lia Rodrigues, Luiz de Abreu, Calixto Neto, Original Bomber Crew e Volmir Cordeiro.
Alteridades
Alejandro Ahmed, diretor e coreógrafo do grupo Cena 11, companhia de dança de Florianópolis, se apresenta pela primeira vez na Bienal de Lyon, com o trabalho "Eu não sou só eu em mim", que questiona o que poderia ser "a dança do Brasil, e no Brasil". "'Eu não sou eu em mim' é um trabalho que faz parte de um processo maior chamado 'Estado de Natureza'. Esse processo se articula a partir de uma pergunta: o que pode ser a dança no Brasil e do Brasil? Que dança seria essa?", explica o coreógrafo.
"O Cena 11 entende a dança como uma tecnologia de comportamento, e articula comportamento, matéria e linguagem para produzir uma modulação músculo-esquelética e emocional da gravidade. Ou seja, o peso é o nosso modo de articular pensamento, movimento e dramaturgia. Essa relação com o peso e com o corpo no espaço constitui um padrão de conexão entre diversas danças e técnicas ? urbanas e locais ? que o grupo Cena 11 articula nesse trabalho", desenvolve Ahmed.
"O trabalho é, portanto, uma pergunta sobre a alteridade: sobre o outro que nos habita, e que, de alguma forma, é sempre vital para compreendermos a nós mesmos", finaliza.
Desfile de abertura
Já Diego Dantas, diretor artístico do Centro Coreográfico do Rio de Janeiro, mistura influências entre sua formação na dança clássica, no samba e em criações contemporâneas para engendrar o Défilé, o tradicional desfile de abertura da Bienal de Dança de Lyon, cujo tema em 2025 é a "reciclagem das danças". "Meu projeto se alinha à temática da Bienal, porque eu aproveito essa proposta para recuperar um repertório coreográfico ligado ao carnaval, que é um repertório exigente, que olha para as danças tradicionais, para os territórios do corpo, para o carnaval, para a cidade, e também para as danças negras e contemporâneas", contextualiza.
"É um diálogo entre o tradicional e o contemporâneo como prática de resistência e de ancestralidade em movimento ? essa grande potência de comunicação com a comunidade que é o carnaval", resume. "A dança é sempre uma tecnologia muito importante de multiplicação. Então eu recupero coreografias que criei tanto para a Império da Tijuca quanto para outras escolas por onde ei, como a Unidos da Vila Kennedy e a própria Imperatriz Leopoldinense. Eu revisito esse repertório com base em uma música e em referências sonoras que o DJ Pedro Berto está desenvolvendo a partir das indicações que ei para ele, criando uma trilha sonora original ? que está linda, por sinal", comemora Dantas.
"A ideia é levar tudo isso, essas referências ancestrais da cultura afro-brasileira, com movimentos que dialogam com as danças dos orixás, para fazer esse projeto lindo acontecer em Lyon. Queremos levar a força do Brasil e do carnaval da cidade do Rio de Janeiro para dentro desse desfile, sempre pensando nesses diálogos possíveis entre o tradicional e o contemporâneo ? o que um pode oferecer ao outro", conclui o coreógrafo e bailarino carioca.
"Rua"
O espetáculo "Rua", do premiado coreógrafo Volmir Cordeiro, baseado na França, "é uma peça que está o tempo todo suscetível a mudanças, porque é uma obra in situ, site-specific", explica o artista. "Ela tem uma escrita muito precisa, muito elaborada, muito definida ? mas que se adapta a cada lugar por onde a. Ela observa o que existe em cada espaço, lida e dança com a infraestrutura do local", diz.
Apresentado pela primeira vez em 2015, o trabalho é uma espécie de camaleão que se adapta aos espaços por onde a. "Por mais que mantenha uma forma rigorosa, a peça está sempre aberta à adaptação", afirma Cordeiro. "O que mais muda, acima de tudo, são os lugares pelos quais ela a. E esses lugares fazem com que a peça se transforme: seja na maneira de se adaptar ao cimento, ao jardim, à ideia de uma avenida, de uma rua, de uma praça, de uma garagem ou de um estacionamento", diz.
"A forma como ela circula por esses espaços transforma também a maneira como ela se apresenta. Mas existe uma partitura muito precisa, baseada nos poemas de Bertolt Brecht e nos sons produzidos pelo [percussionista e músico Washington] Timbó. E é a partir disso que a dança vai surgindo", conta Cordeiro.
Paisagem em movimento
A coreógrafa cearense Clarice Lima traz a Lyon Bosque, uma performance monumental. "É uma convocação artística à consciência ambiental. Através de práticas coletivas, engajamos participantes locais para virar a cidade de cabeça para baixo", diverte-se. "Não faço isso sozinha ? estou junto com três parceiras incríveis: Aline Bonam, Nina Fadiga e Catarina Saraiva. Estamos muito animadas com essa participação", pontua a artista, que também participa pela primeira vez do evento no leste da França.
"Bosque é sempre um encontro com outras pessoas, com participantes locais, com gente que tem essa habilidade maluca de ficar de cabeça para baixo. Juntos, criamos uma paisagem em movimento dentro da cidade. E eu acho que vai ser muito bonito fazer esse bosque brotar em Lyon", diz Lima.
"O samba do crioulo doido"
"Essa peça foi criada em 2004 e recriada em 2020, e até hoje continua em turnê. Ela questiona, a partir do corpo negro ? o do coreógrafo Luiz de Abreu ? o olhar que a sociedade brasileira historicamente construiu sobre esse corpo", explica o também coreógrafo e bailarino brasileiro Calixto Neto.
"Apesar de ter sido concebida há mais de duas décadas, em 2020 ela ainda era extremamente atual, especialmente no contexto em que o país estava sob o governo Bolsonaro ? um governo de caráter fascista. A obra segue ressoando com força e agora, em 2025, ela permanece relevante", contextualiza.
"Nosso ado colonial ainda nos assombra, e essa peça é incontornável para compreender as relações entre o corpo negro e a sociedade contemporânea", destaca Neto.
A 21ª Bienal da Dança de Lyon acontece de 6 a 28 de setembro no leste da França.