Dólar sobe e fecha a R$ 5,71 e Bolsa despenca 1% com incerteza fiscal
O dólar fechou o dia com valorização de 0,91% frente ao real vendido a R$ 5,718. Já a Bolsa de Valores brasileiras caiu ao longo do dia em meio à divulgação de indicadores no Brasil e nos Estados Unidos.
No radar dos investidores estão o crescimento de 1,4% do PIB brasileiro no primeiro trimestre e os dados de inflação americana, que devem influenciar os próximos os da política monetária do Banco Central americano (Fed). As incertezas fiscais no Brasil e a tensão comercial provocada pelos Estados Unidos também moldam o humor do mercado.
O que aconteceu
O dólar comercial avançou ao longo de todo o dia. A moeda americana só perdeu valor em comparação com o dia anterior durante um breve período da manhã. Por volta das 9h15, a disparada começou, fechado o dia valendo R$ 5,718.
Divisa acumula alta em maio. As incertezas sobre o aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) anunciado pelo governo e o "tarifaço" do presidente dos EUA, Donald Trump, guiam as oscilações recentes.
De olho também nos Estados Unidos. Hoje o mercado lida com o índice de preços gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) nos EUA, que subiu 0,1% em abril. O dado, divulgado hoje, está dentro das expectativas dos analistas, e dá pistas sobre os próximos os do banco central americano sobre os juros. A autoridade monetária tem sido pressionada a reduzir as taxas, mas o o Fed continua com a política restritiva apontando a inflação como motivo.
PIB dos EUA em queda. Ontem os norte-americanos também acompanharam a queda de 0,2% do Produto Interno Bruto local. Com uma economia menos aquecida, os investidores acreditam que a alta nos preços vai arrefecer, abrindo a possibilidade para que o Fed corte a taxa de juros.
Tensão comercial entre os EUA e China. O presidente Donald Trump disse nesta sexta que a China "violou totalmente" o acordo com o país, feito "para salvar" o gigante asiático. A trégua de 30 dias foi anunciada no último dia 12 de maio, quando os EUA reduziram as tarifas sobre as importações chinesas de 145% para 30% e as da China foram de 125% para 10%.
Bolsa cai
Depois de fechar em queda na quinta, a Bolsa de Valores repetiu o desempenho nesta sexta. O avanço era de 0,01% com 138.546,16 pontos no início da manhã, mas, por volta das 10h20, o indicador da B3 começou a cair, terminando o dia despencando 1,09% recuando a 137.026,62 pontos.
Mercado opera com cautela, apontam economista. Apesar do resultado PIB estar em linha com as expectativas dos operadores, o dado está em segundo plano devido ao cenário fiscal que "reacende preocupações mais amplas com a política fiscal e o ambiente externo", afirma a mestre em Ciências Econômicas e economista na Droom Investimentos, Mayara Oliveira.
O anúncio do bloqueio adicional no Orçamento, embora esperado, reacendeu dúvidas sobre a viabilidade do arcabouço fiscal e a capacidade do governo de cumprir a meta, mesmo com a flexibilidade já incorporada. O mercado quer ver medidas estruturais mais claras, e não apenas contingenciamentos pontuais. Além disso, a alta nos juros dos Treasuries lá fora também pressiona os ativos de países emergentes como o Brasil. Isso contribui para a valorização do dólar e ajuda a explicar a queda nos ativos de risco.
Mayara Oliveira, economista
O comportamento dos mercados hoje reflete um pouco dessa combinação: incertezas globais, o tema tarifário continua gerando incertezas no mundo, e aqui o tema fiscal tem dado esse viés negativo nos últimos dias. Então mesmo com o PIB positivo, o mercado está reagindo à questão das contas públicas e o ambiente global desfavorável.
Roberto Padovani, economista
Repercussão do PIB no 1º trimestre
Mercado repercute indicadores econômicos do Brasil. O desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil relativo ao primeiro trimestre de 2025 também deve ser acompanhado de perto pelos investidores. O resultado divulgado pelo IBGE hoje aponta para um crescimento de 1,4% do indicador o trimestre, em linha com as expectativas. O desempenho positivo foi impulsionado pelo salto de 10,2% da agropecuária. Na comparação anual, houve um avanço de 2,9%, contra expectativa de 3,2% para o período.
O desempenho do agro ainda deve contribuir no 2º trimestre, mas esperamos que a tendência de desaceleração da demanda, diz especialista. O PIB, que cresce 3,5% no acumulado de 12 meses até março de 2025, deve desacelerar para mais próximo de 2% até o final do ano, segundo a economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória.
Estimular uma economia que cresce acima do seu potencial não é sustentável no longo prazo. O investimento no primeiro trimestre ainda teve alta e contou com importação de plataforma de petróleo, mas o atual patamar de juros e as incertezas tributárias não devem estimular novo crescimento no curto prazo. Devemos seguir com o baixo patamar de 17% de investimento sobre o PIB. A desaceleração da demanda é importante nesse momento para que os juros caiam e o crescimento da oferta, além do agro, possa retomar.
Rafaela Vitória, economista
Ajuste fiscal está no radar no cenário doméstico. As expectativas do mercado financeiro estão voltadas para a distribuição do congelamento de R$ 31,3 bilhões do Orçamento deste ano. O ajuste das despesas será determinado por bloqueios (R$ 10,6 bilhões) e contingenciamentos (R$ 20,7 bilhões) e tem o objetivo de cumprir a meta de zerar o déficit primário.